Rechercher dans ce blog

Thursday, December 30, 2021

Inflação bate retorno das aplicações no ano - Valor Econômico

Num ano em que o Ibovespa figurou entre os piores desempenhos globais, os juros subiram e a inflação corroeu o poder de compra do brasileiro, sobrou frustração para o investidor com o desempenho de sua carteira. No Brasil de 2021, nenhuma aplicação financeira conseguiu superar a inflação. Pela primeira vez em toda a série acompanhada pelo Valor e consolidada a partir do Plano Real, nenhuma das classes de aplicações, exceto o bitcoin, teve ganho real. A inflação ganhou do Ibovespa, da renda fixa, do dólar e até do ouro.

A mediana das mais recentes projeções da pesquisa de mercado Focus, realizada pelo Banco Central, aponta para um IPCA de 10,04% em 2021. Com isso, todas as classes apresentaram queda real nos rendimentos, quando descontada a inflação. Nem mesmo o dólar, que subiu 9,77% no ano, até ontem, teve forças para superar a alta de preços. Já o Ibovespa recuava 12,5% no consolidado de 2021, até o dia 29, enquanto o IMAB+5, que reflete uma cesta de títulos públicos atrelados à inflação com prazo acima de cinco anos, perdia 6,8%. O índice de renda fixa (IRFM) cedia 2,1%. O CDI, referência das aplicações de renda fixa, subiu só 4,4% no ano.

Nem o ouro, ativo considerado de proteção, cumpriu o papel de garantir ganho real. O ouro subiu apenas 2,69% no ano, até ontem. Exceção foi o universo dos criptoativos, onde o bitcoin teve expressiva valorização de 74,5% acumulada no período.

Segundo o gestor de multimercados da asset da XP, Bruno Marques, “a inflação, sem sombra de dúvida, foi o maior drama que a economia viveu neste ano”. Para o especialista, a forte pressão de subida de preços “não só desorganiza os processos econômicos como também prejudicou grande parte dos investimentos”.

Na virada do calendário para 2022, o alento é que os ativos brasileiros partem de uma base tão depreciada que especialistas em investimentos veem chances reais de recuperação. Não vai ser linear nem sem obstáculos, há muitas incertezas no caminho. Mas a percepção é que parte do risco eleitoral já foi antecipada nos preços dos ativos e que o aperto monetário promovido pelo Banco Central (BC) finalmente surtirá efeito nos índices de preços na economia.

De qualquer forma, com a taxa Selic em 9,25% ao ano, e a expectativa de que alcance e fique por um bom tempo nos dois dígitos, já há um porto seguro para o investidor. Mas não é o caso de jogar só na defesa, diz Rafael Bisinha, especialista em mercados locais do private bank do Citi.

Como nos preços, as taxas futuras já apontam uma Selic a 12%, 12,5% em 2022, o investidor pode se apropriar desses ganhos nominais se o juro básico parar de subir antes disso. “Tem uma oportunidade de ganho superior ao custo de oportunidade, remunerando o risco em época eleitoral”, diz. “A inflação em 2021 foi alta, mas no ano que vem deve ficar mais perto do teto, em 5%. Se a Selic ficar em 11%, 11,5%, versus uma inflação de 5%, tem um retorno real contratado da ordem de 5%, 6%, que é bem satisfatório.”

Bisinha também vê as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B ou Tesouro IPCA) como uma boa alternativa de proteção para períodos mais longos. “Quando se pensa em inflação no médio e longo prazo persistente, normalmente está associada a algum desarranjo das contas públicas, há dúvidas se vai ter uma trajetória explosiva da dívida e o mercado está vivendo esse tipo de questionamento, está operando isso.”

Se, porventura, o descontrole não ocorrer e se restabeleça a âncora da meta de inflação, o melhor risco/retorno para alocação está nas NTN-Bs com vencimentos em 2026 e 2028, que em geral pagam prêmio de 5% acima da inflação, descreve Bisinha. “É um ganho bom para travar nesse horizonte de tempo. Se as coisas melhorarem no pós eleitoral, há razões para imaginar que o investidor não vai mais encontrar oportunidade como essas num título público”, afirma. “E se não derem certo no intervalo de três a quatro anos e a inflação sair do controle, é bom estar indexado ao IPCA, minimiza a perda do poder de compra dos recursos investidos.”

A Selic mais alta também traz o conforto de ter mais caixa para aproveitar oportunidades em ativos de risco como a bolsa. Após quedas colossais de alguns setores, Bisinha afirma ser recomendável ter munição para apertar o gatilho quando o ambiente de valorização se restabelecer. “Quem não está alocado em renda variável pode fazer em tranches.”

Para os ativos internacionais, especialmente bolsa, Eduardo Ventura, que lidera o private bank do Citi no Brasil, mantém uma visão positiva, a despeito das sinalizações do Federal Reserve (Fed, o BC americano) de redução de estímulos e até de ajuste monetário. “Lá fora há pouca convicção se a inflação é persistente ou não. É uma incerteza, mas é pouco provável que o BC vá esmagar o crescimento”, afirma. “Tem altas de juros no radar, mas nada muda no nosso cenário, seguimos construtivos com as empresas e com a recuperação dos lucros.”

Em 2021 foram as carteiras internacionais que salvaram o ano, com alta de 10% em dólar, diz Ventura. A percepção é que a renda fixa lá fora continuará proporcionando retornos magros e que o mercado acionário tende a produzir novas alternativas de ganhos. Bisinha acrescenta que não deve ser na mesma velocidade deste ano, em que impulsos monetários e fiscais proporcionaram valorizações expressivas.

Nos Estados Unidas, as estimativas são de crescimento de lucros das companhias listadas entre 8% e 10%. “E tem que pensar que as empresas pagam dividendos. Mesmo que não tenha tanta expansão dos múltiplos, tem ganhos dessa ordem para capturar”, diz Bisinha. Europa e Ásia são outros mercados promissores, enquanto na América Latina o Citi está preparado para usar o caixa se oportunidades surgirem em meio aos ciclos eleitorais em diversos países da região.

Sob a ótica global, 2022 tende a ser um ano de transição de políticas econômicas frouxas para algum passo de aperto de liquidez nos países desenvolvidos, diz Luiz Sedrani, diretor de gestão da BV Asset. Sai de cena um pouco a covid-19 e entram os diferentes estágios de recuperação e de iniciativas para frear pressões inflacionárias.

Mesmo com altas de juros programadas ao longo do ano, Sedrani vê a renda fixa como alternativa menos promissora. Nos EUA, ele ainda vê incremento de resultados para as companhias. “Não vai ser o mesmo crescimento [de 2020 e 2021], já entra em velocidade de cruzeiro que vai estar sintetizada no desempenho do próprio S&P 500”, diz. “Ativos de risco continuam ok, não acredito numa debandada completa.”

Para os ativos locais, o executivo da BV Asset não acha que o fator eleitoral, a inflação e a questão fiscal tenham sido totalmente incorporados aos preços. Mas o ponto de partida é tão baixo que possibilita que tenham um desempenho melhor em 2022. Algumas questões, como o choque de energia, do petróleo, tendem a se dissipar, enquanto outras se acentuam. O cenário eleitoral precisa ficar mais claro e pode ser um gatilho para a reação à medida que o discurso dos candidatos molde o que pode ser 2023, sinalizando, por exemplos, quais nomes vão tocar a economia.

“Quando a gente olha para a bolsa, o desempenho das companhias foi bom, elas foram bem na geração de caixa e de receitas”, diz Sedrani. Até outubro, novembro, ele espera um ambiente de muita volatilidade, com o fim do último trimestre talvez apresentando uma janela de ganhos para os ativos de risco. “Pode ser um ponto de entrada - ou saída - para todos os ativos brasileiros quando começar a definir a eleição, a depender do discurso dos candidatos.”

Na gestão das carteiras, Sedrani vê um ano de posicionamentos mais táticos, de giro um pouco mais rápido, aproveitando movimentos extremos do mercado, além de olhar para fora do Brasil. Tanto aqui quanto no exterior, em bolsa vale ser seletivo, buscar ações com maior potencial, em vez da alocação passiva nos índices.

Na renda fixa, o executivo diz que a NTN-B com taxas entre 5% e 5,5%, além do IPCA, “é um baita juros”, o problema é o investidor aguentar o meio do caminho. “O juro real no Brasil é altíssimo, o mercado põe no preço uma série de coisas ruins, mas o governo tem capacidade de criar notícias negativas em sequência”, diz Sedrani.

Para um fundo que tem que atualizar o valor dos ativos a preços de mercado, esse tipo de alocação pode ser traiçoeira em momentos de estresse, mas a pessoa física que tenha condições de segurar os papéis até o vencimento pode usufruir de bons ganhos reais.

Depois de um 2021 que nem mesmo o investidor profissional ganhou dinheiro, há muito risco pela frente e não vai ser trivial montar posições para o investidor em 2022, diz Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management. “Tanto no cenário interno quanto externo, o risco está assimétrico, se as coisas derem errado há muito para ajustar nos preços.”

No Brasil, o executivo avalia que parte do estresse político e macroeconômico já está embutido nos preços dos ativos. “Apesar do pano de fundo eleitoral, do problema fiscal e da inflação, a gente viu a bolsa ser ‘amassada’ ao longo do tempo em relação a outras bolsas do mundo, o dólar bater R$ 5,75 e o futuro projetando R$ 6,50.” Mas com o cenário nebuloso, Barcellos acha prudente ter alocações mais táticas, evitando posições estruturais, comprado, por exemplo, em bolsa e ficar estacionado para o médio e longo prazos. “Eu teria a parte boa da bolsa no Brasil, não muito consumo, varejo, talvez Petrobras, Vale, mesmo empresas financeiras, tem muito prêmio aí”, afirma.

Outro posicionamento estrutural que o executivo gosta são as NTN-Bs, com taxas na casa dos 5,5%, enquanto o mundo roda com juros reais negativos.

Embora o real seja uma das moedas mais depreciadas do mundo, o executivo diz que não dá para colocar as fichas na sua valorização. “Ruim ou bom, o preço é justo, o câmbio está marcado a mercado.” Ele afirma ser preferível delegar esse tipo de alocação a gestores especializados em moedas. Não dá para se fiar apenas nas boas condições do balanço em transações correntes.

Após a escalada de 2021, Marques explica que, na expectativa da gestora da XP, a inflação tende a atingir o pico entre o fim deste ano e o começo de 2022. “No primeiro bimestre do próximo ano, a inflação tende começar a desacelerar gradualmente”, afirma. Para o gestor, essa mudança de rumo abre oportunidades de investimento. “O BC está atuando e, com isso, o processo desinflacionário vai abrir algumas oportunidades como na curva de juros”, diz.

Adblock test (Why?)


Inflação bate retorno das aplicações no ano - Valor Econômico
Read More

No comments:

Post a Comment

Com Selic a 11,25%, quanto rende investimento de R$ 1 mil? - Revista Oeste

Nesta quarta-feira, 31, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou pela quinta vez consecutiva a taxa básica de j...