Um fato que não dá para negar é que a economia brasileira termina 2023 com indicadores muito melhores que os que o mercado esperava no início do ano. No Boletim Focus divulgado pelo Banco Central em 2 de janeiro, a expectativa era chegar ao fim deste ano com uma inflação de 5,31%, uma taxa de juros de 12,25% ao ano e um crescimento do PIB de 0,8%.
O mesmo Focus, publicado agora em 26 de dezembro, apontava para um IPCA de 4,46% (dentro da meta perseguida pelo Banco Central), uma taxa de juros de 11,75% (atingida na última reunião do Copom) e um crescimento do PIB de 2,92%. Sem dúvida, números muito melhores.
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Entre um boletim e outro, alguns avanços acabaram animando analistas e investidores. A aprovação do arcabouço fiscal, para substituir o então claudicante teto de gastos, por exemplo, mostrou que pelo menos o ministro Fernando Haddad e sua equipe mantinham preocupação com a questão fiscal.
A aprovação da reforma tributária foi uma bem-vinda e inesperada surpresa. Poucos, no início do ano, apostariam que um projeto tão complexo, e que mexe com tantos interesses, passaria no Congresso.
Esses avanços acabaram se refletindo no humor dos investidores. As agências de classificação de risco internacionais subiram o rating do Brasil, algo que não estava no radar de ninguém (embora o País ainda esteja longe do grau de investimento).
Mas a impressão que fica é que isso tudo aconteceu a despeito do governo. Desde o início, o que se ouviu do presidente Lula foram falas contrárias à responsabilidade fiscal e ao mercado.
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Um dos pontos que mais provocaram temor no início do ano foram declarações favoráveis à reestatização da Eletrobras — cuja venda foi um dos legados mais positivos da gestão de Jair Bolsonaro. Felizmente, até o momento, essa pauta não andou.
Em relação às privatizações, o governo termina o ano enterrando de vez o plano de venda das refinarias da Petrobras. Pior: a estatal não entregou uma pequena refinaria no Ceará que havia sido vendida, decidindo desfazer o negócio.
O relançado PAC (o Programa de Aceleração do Crescimento) veio com um cheiro forte de naftalina e lembranças bem desagradáveis de investimentos ineficientes e envoltos em corrupção — vide os estaleiros da Sete Brasil ou as próprias refinarias da Petrobras.
O ministro Haddad passou o ano pregando a meta de déficit zero em 2024. Mas parece ser quase uma voz no deserto. “Dificilmente chegaremos à meta zero, até porque não queremos fazer corte de investimentos e de obras”, afirmou Lula, em outubro.
A visão dentro do PT é a mesma. “Se o privado não está bem, o Estado tem de entrar com tudo. O que tem de ser feito ano que vem: executar o orçamento inteiro, não é um déficit que vai mudar (a situação do País)”, disse a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, em um evento neste mês.
No mesmo evento, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou: “Se tiver de fazer déficit, nós vamos ter de fazer. Porque, senão, a gente não ganha eleição em 2024″.
Por isso tanto temor com o próximo ano. Os indicadores que chegam de 2023 podem até ser bons, mas os sinais são bastante preocupantes.
Indicadores que chegam de 2023 podem até ser bons, mas sinais dados pelo governo preocupam - Estadão
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