O Banco Central se reúne nesta terça (2) e quarta (3) para definir a taxa Selic, mas os juros ainda não devem cair, segundo prevê o mercado.
Por que não se espera queda?
A expectativa do mercado é de manutenção da Selic. Ainda que os especialistas ouvidos pelo UOL acreditem que haja espaço para reduzir os juros agora, boa parte do mercado aposta em queda só no segundo semestre.
Queda só a partir do segundo semestre. A LCA Consultoria vê margem para redução dos juros no terceiro trimestre. O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, estima que o primeiro corte venha em agosto.
A inflação alta explica juros atuais, mas o BC já poderia ter reduzido a Selic. Segundo especialistas, o fato de as perspectivas para a economia terem melhorado e as regras de gasto público terem sido apresentadas justificaria uma queda nos juros agora.
Alta dos preços é vilã
A inflação neste ano ainda preocupa. A projeção é de que a inflação termine 2023 em 6,05%, de acordo com o último Boletim Focus. Se acontecer, será o terceiro ano seguido em que o governo não consegue cumprir a meta de inflação (3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo).
Do ponto de vista técnico, a Selic está nesse patamar por causa da inflação. O BC olha para essa perspectiva e entende que ainda existe uma tendência de alta dos preços. Ele não está olhando para o retrovisor, e sim para a frente.
César Bergo, professor da UnB (Universidade de Brasília)
Mesmo assim, há margem para redução. O professor da UnB acredita, porém, que o BC poderia baixar a Selic para 13,5% agora. Embora a inflação ainda esteja alta, outros indicadores melhoraram, como a projeção para o crescimento da economia (1% em 2023).
Queda nos juros melhoraria as expectativas. A Selic mais baixa também serviria como sinalização ao mercado de que a economia está evoluindo, segundo avaliação de Carla Beni Menezes de Aguiar, professora dos MBAs da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).
Os juros já deveriam ter baixado. O BC poderia ter começado a reduzir a taxa Selic, nem se fosse 0,25 ponto percentual, para dar uma expectativa de queda futura. Os empresários, a economia, todos trabalham com expectativa.
Carla Beni, da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas)
Críticas do governo
Lula reclama e pede redução de juros. Recentemente, em Portugal, o presidente Lula (PT) disse que a Selic em 13,75% ao ano desestimula investimentos e impede o consumo, além de diminuir a oferta de crédito. "A solução do Brasil é colocar o pobre para comprar", afirmou.
Haddad reforçou a pressão sobre o BC. O ministro da Fazenda disse no último dia 26 que "só temos boas notícias sobre inflação e recomposição do orçamento", sugerindo que o país já tem um cenário favorável para a queda dos juros. "Empresário tem que ganhar dinheiro com juros baixos e investindo", defendeu.
Especialistas divergem. César Bergo, da UnB, diz que o BC é técnico e tem autonomia, e questiona críticas do governo, lembrando que a inflação é um "mal global". Mas Carla Beni, da FGV, diz que as reclamações são justificadas e "está muito difícil de explicar" por que o Brasil tem a maior taxa real de juros do mundo.
O que diz o BC
O presidente do BC defende os juros. Na quinta (27), em debate no Senado, Roberto Campos Neto disse que reduzir a taxa Selic não necessariamente melhoraria a oferta de crédito no Brasil e ainda geraria inflação maior.
O governo caminha "na direção correta", junto com o BC. Mesmo assim, Campos Neto avaliou que o governo federal e o BC estão sintonizados, em possível referência à nova regra (ou arcabouço fiscal) para controle dos gastos públicos apresentada neste mês.
"Se fosse fácil resolver, já tínhamos feito". Antes, na terça (25), o presidente do BC já havia dito que não baixaria os juros com "canetada". Ele acrescentou que o BC tenta suavizar ao máximo a alta dos juros para manter a inflação dentro da meta com "o menor custo possível".
Se fizermos uma queda de juros artificial, vai passar a mensagem de que a remuneração não está adequada ao risco. As pessoas investiriam em outro lugar, o real iria desvalorizar, e ia começar um processo de expectativas crescentes de inflação.
Roberto Campos Neto, no Senado
BC faz nova reunião nesta semana, e não deve baixar juros; por quê? - UOL Economia
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