Maria Kauana Souza Cabral, 25 anos, mora com a mãe em São Paulo. Quando começou a faculdade de marketing e publicidade, com bolsa parcial, não imaginava que passaria por uma crise financeira que interrompeu seus estudos e chegou a afetar sua saúde.
"O valor da mensalidade foi aumentando e meu salário, que não chegava a R$ 2.000 à época, ficou insuficiente. Não consegui mais pagar", diz. A estudante de marketing e publicidade viu-se impedida de continuar estudando e acabou trancando o curso.
O que está acontecendo? Maria Kauana faz parte de uma estatística preocupante. O número de jovens até 25 anos que estão com o nome sujo cresceu 66,17% em 12 meses, segundo dados da Serasa obtidos pelo UOL.
Ela perdeu renda e a mãe ficou desempregada: Com a covid-19, Maria Kauana teve diminuição da carga horária no emprego e, consequentemente da renda. Já sua mãe, empregada doméstica, ficou sem trabalho. A jovem acumulou, então, faturas não pagas no cartão de crédito, além das dívidas que tinha com a faculdade.
"Com o aumento do custo de vida e a sobrecarga dos débitos, desenvolvi síndrome de burnout. Foi um período muito complicado", conta.
Passada a fase mais crítica e com o recuo dos casos de covid-19, Maria conseguiu se organizar, aumentar sua renda, e negociar o saldo devedor do cartão de crédito, pelo aplicativo da Serasa.
"Já em relação à faculdade, tive dificuldades e foi preciso assinar um contrato pessoalmente. Enfim, tudo mais burocrático", declara.
Após o susto, a jovem ressalta a importância do planejamento financeiro, com a criação de uma reserva para emergências, quando possível.
Acúmulo de gastos pessoais: Lorrani Helena Souza, 22 anos, de Guarulhos (SP) afirma que o desemprego tirou dela a chance de quitar os débitos do cartão. "Fiquei desempregada e não tive condições de pagar a fatura, então meu nome foi para a Serasa", conta. Com o score baixo, Lorrani teve o cartão bloqueado, o que afetou diretamente sua rotina.
Só conseguiu se reerguer após cerca de um ano —e um novo emprego. Ela diz que a primeira coisa que fez foi quitar o que devia, conseguindo desconto.
Com a recuperação do crédito, a jovem, que trabalha como vendedora de uma outlet, pretende investir no futuro e programar-se melhor financeiramente, para que a situação não se repita.
Por que os jovens estão devendo? Patrícia Camillo, pós-graduada em finanças pelo Insper e especialista da Serasa, afirma que as principais causas do acúmulo de débitos são contas de telefonia e comunicações, seguidas de cartões de crédito.
Mas há também casos de mensalidades de faculdade atrasadas, queda da renda pela diminuição de carga horária com a pandemia, e aumento dos custos de vida.
Estão tentando resolver os problemas: Mas a busca para limparem o nome também está aumentando. Em agosto deste ano, houve 72,47% mais jovens buscando acordos para voltar a ter crédito na praça, se comparado ao mesmo mês em 2021. Ao todo, 540,1 mil jovens, com menos de 25 anos, utilizaram a Serasa Limpa Nome para fazer acordos em agosto. O número representa 21,4% do total de pessoas que usaram a plataforma, perdendo apenas para a população de 30 a 40 anos (30,3%).
Segundo a Serasa, a faixa salarial mensal dos jovens que procuraram a renegociação é de R$ 1.000 e R$ 2.000.
"A preocupação com o futuro e a falta de acesso ao crédito são os motivos que levam os jovens a livrarem-se das dívidas", explica.
Dívidas comprometem sonhos: Camillo afirma que as dívidas podem comprometer sonhos comuns aos jovens, como o de comprar um carro ou terminar a faculdade, por exemplo. Além disso, pessoas com nome sujo não conseguem crédito, o que afeta todo o mercado.
"O crescimento de devedores diminui a oferta de crédito e aumenta os critérios, até mesmo para as pessoas que pagam sem dificuldades", afirma.
"Os brasileiros, de modo geral, querem dormir com a consciência tranquila. Mas, o ideal é consultar sempre suas dívidas, para não saírem do controle e virarem uma bola de neve", diz.
Jovens acumulam dívidas e atrasam sonhos: 'Não consegui pagar a faculdade' - UOL Economia
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