O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de junho trouxe surpresas positivas e negativas. Por um lado, o indicador, que avançou 0,67% na comparação com maio, veio levemente abaixo do consenso do mercado, que projetava uma alta de 0,7%. Mesmo assim, o índice voltou a acelerar depois de dois meses seguidos de arrefecimento. A difusão da inflação diminuiu em junho, mas seu núcleo continua elevado e a qualidade do número segue piorando, de acordo com os analistas.
Na avaliação da XP, que esperava um avanço de 0,75% no IPCA de junho, a deflação maior que esperada da gasolina (-0,72%) contribuiu para a surpresa. O recuo refletiu a PLP 18, medida que diminui impostos de energia elétrica, gás natural, combustíveis, telecomunicações e transportes coletivos. Para Tatiana Nogueira, economista da XP, é por esse motivo que o IPCA deve entrar no campo deflacionário já no mês que vem.
“Estimamos deflação de -0,81% em julho e IPCA de 7,0% no ano”, escreveu Tatiana. Contudo, a economista observa que vários itens do indicador continuam pressionados, especialmente vestuário e automóveis. Serviços, como alimentação fora do domicílio, seguem em trajetória de aceleração, refletindo a reabertura da economia e a inflação corrente considerada elevada.
Combustíveis e energia elétrica ficaram mais baratos na maioria das capitais
O componente energia elétrica do IPCA de junho registrou uma deflação de 1,07%. De acordo com acompanhamento da AZ Quest, apenas sete capitais brasileiras tiveram aumento no valor da conta. A deflação na maioria das cidades foi um reflexo da PLP 18.
O efeito das medidas de desoneração, em termos geográficos, foi ainda maior no caso da gasolina. A AZ Quest identificou que o preço do combustível subiu apenas em quatro capitais brasileiras no mês de junho.
Acompanhamento da AZ Quest sobre preços da gasolina
Porém, ainda que esses dois componentes do IPCA tenham apresentado deflação acima da expectativa em junho, a AZ Quest não mudou sua projeção para a inflação ao final do ano. A casa acredita que o índice chegará a 7,2%. “A variação no segmento de serviços veio acima do esperado, confirmando que a qualidade da inflação segue pressionada”, afirma Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest.
A difusão da inflação em junho recuou para 66,6%, menor nível desde novembro de 2021. “Apesar de a inflação seguir disseminada entre bens e serviços na economia (não se restringindo a poucos itens), há sinais de que deixamos o pico para trás”, afirma Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.
Mas a média dos núcleos, que capta a tendência dos preços desconsiderando choques temporários, segue próxima de 1%. No mês passado, ficou em 0,89%, novamente acima do IPCA cheio.
“A média dos núcleos, serviços subjacentes e produtos industriais subjacentes tem resultados ao redor de 1%, valor incoerente com a meta do Banco Central. A falta de alívio nessas medidas aponta para uma inflação persistente, que deve ser mais difícil de ser controlada pela autoridade monetária”, diz Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.
Por sua vez, o Goldman Sachs avalia que a inflação tende a se tornar cada vez mais inercial. “O cenário atual e as perspectivas desafiadoras para a inflação, com uma sinalização hawkish [mais dura sobre juros] do Fomc, garantem uma calibragem conservadora da política monetária e um aumento de 50 pontos base na reunião de agosto do Copom”, diz a análise de Alberto Ramos.
Próximos passos do BC após IPCA de junho
João Savignon, economista da Kínitro Capital, aponta ainda que, mesmo que o pico da inflação tenha ficado para trás, o cenário continua desafiador. “Seja pela forte correção do câmbio no curto prazo, que pode atrapalhar a volta dos bens industriais, seja por um mercado de trabalho mais forte, que pressiona os serviços”, afirma.
A redução de tributos sobre combustíveis e energia elétrica é temporária. Logo, a redução do IPCA no curto prazo implica em expectativas piores para a inflação no ano que vem. “Os efeitos do PLP 18 são altistas para 2023, com a recomposição parcial de alguns impostos. Inclusive, o [relatório] Focus segue sendo revisto para cima em 2023 e [o IPCA] já está em 5,01%, muito acima da meta de 3,25%”, avalia Luis Menon, economista da Garde.
O economista acredita que o cenário de política monetária não muda após o IPCA de junho. Para a Garde, o Banco Central deve elevar a Selic em mais 50 pontos base, para 13,75%.
Na visão de Savignon, da Kínitro, “os desafios para o Banco Central encerrar o ciclo de elevação dos juros em sua próxima reunião são elevados.”
A AZ Quest, por sua vez, prevê que a Selic termine 2022 em 14% ao ano. Além de uma alta de 50 pontos base na reunião de agosto, a casa acredita em mais um ajuste de 25 pontos no encontro de setembro.
Por outro lado, Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, se mostra um pouco mais otimista. “O resultado do IPCA de junho dá um pouco mais de tranquilidade para o BC encerrar o ciclo de alta de juros em agosto”, afirma. Segundo ele, o IPCA “não foi perfeito”, com as pressões em serviços. “Mas entendo que vai ser base para justificar o final do ciclo de aperto”, conclui.
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