BUENOS AIRES - A Argentina é o único país do mundo que possui pelo menos 13 tipos de conversão da moeda. Restrições e tributos criaram cotações para diferentes segmentos da economia. Além do dólar comercial, paralelo e turismo, como no Brasil, a Argentina tem os câmbios “vinho”, “trigo” e “Bolsa”, entre muitos outros. “Tantas cotações são resultado de controles, impostos às exportações e política econômica errática”, afirmou o economista-chefe da Fundación Libertad y Progreso, Eugenio Mari.
Com tantas distorções na economia, e um nível de reservas muito baixo – de US$ 3,2 bilhões, exatamente o mínimo definido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) –, a tendência é de mais desvalorização para o peso, de acordo com o economista. No mercado, fala-se até em uma nova maxidesvalorização da moeda de pelo menos 40%.
Para o turista brasileiro, embora o real tenha ganhado valor em relação à moeda argentina, é preciso ficar atento para pagar uma cotação mais vantajosa, ao invés de fazer um mau negócio. “Pelo câmbio oficial, em 2019, R$ 1 equivalia a 7,50 pesos; agora, são 24 pesos para cada R$ 1”, diz Mari. No entanto, o câmbio oficial ainda é bem menos vantajoso do que o obtido na rua, hoje já acima de 55 pesos por R$ 1.
Por isso, usar o cartão de crédito na Argentina deve ser evitado ao máximo. Isso porque, por se tratar de um meio oficial, o câmbio é feito pelo dólar oficial (um prejuízo de pelo menos 50% em relação ao paralelo). Compras no cartão também estão sujeitas à cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%.
Além disso, muitos estabelecimentos comerciais nem sequer aceitam cartão de crédito, preferindo o efectivo (dinheiro vivo). Como a moeda já se desvalorizou muito, não é incomum o turista ter de andar com um bolo de notas: quem troca R$ 1 mil, por exemplo, pode sair com 55 notas de mil pesos da casa de câmbio.
Neste momento, uma das formas preferidas de os brasileiros fazerem câmbio são as lojas da rede Western Union, conhecido serviço de transferências internacionais. Não é raro que as lojas da rede tenham filas que se estendam pela calçada, especialmente às sextas-feiras e aos sábados.
A advogada Débora Cristina Pires, de 39 anos, tirou 20 dias de férias com amigos e familiares e desembarcou em Buenos Aires na última quinta-feira. Ela foi diretamente do aeroporto para uma loja da Western Union para retirar o dinheiro que havia transferido para seu próprio nome.
“Descobrimos com amigos sobre a troca de dinheiro por essa modalidade e achamos uma boa porque a cotação é competitiva, sem burocracia e sem demora. Mandei dinheiro ontem e, agora, a primeira coisa que fizemos foi vir retirar em pesos. Valeu a pena”, disse a advogada, que tirou férias, mas estava interessada em controlar os gastos na viagem.
Os “arbolitos” (cambistas de rua) na Argentina, porém, não estão nada felizes com a nova concorrência: um deles disse ao Estadão, na Rua Florida, que a multinacional está “tirando o nosso trabalho”.
Lições para você
Macetes para não perder dinheiro ao trocar pesos
Oficial x paralelo
Ao contrário do que acontece no Brasil, os valores entre o câmbio oficial e o paralelo são radicalmente diferentes na Argentina; por isso, é melhor evitar alguns pontos oficiais de troca – como bancos em aeroportos – e também o uso do cartão de crédito, que é pautado pelo valor oficial.
Cuidado com notas falsas
Um método de troca de reais que tem feito sucesso entre turistas são as lojas da Western Union, tradicional rede de transferências internacionais, justamente porque os “arbolitos” – cambistas de rua – podem expor o turista a fraudes. Além disso, o câmbio na rua está menos vantajoso. Quem optar pelo câmbio sem comprovante deve pedir referências.
Atenção ao seu nome
Pode parecer óbvio, mas muita gente acaba ficando sem receber o dinheiro na Western Union porque a
identificação é feita pelo nome completo, sem abreviações. Muita gente tem de editar a solicitação de transferência por erros como abreviar o nome, o que pode ser uma dor de cabeça.
Atenção às taxas
O câmbio da Western Union é visto como vantajoso, mas a rede cobra taxas; para R$ 1 mil, já considerando o IOF, o valor a ser pago é de R$ 41; a rede aceita Pix.
Dólar na mão
Muitos estabelecimentos comerciais aceitam dólares e até mesmo reais na Argentina, já que os locais estão sempre em busca de moedas mais fortes.
Gaste seus pesos
Trazer pesos de volta para o Brasil é um “mico”, por duas razões: a moeda só tende a se desvalorizar nos próximos meses e a inflação é muito alta, devendo chegar a 70% ao fim de 2022. Ou seja: o peso de hoje valerá bem menos daqui a alguns meses.
Free shop vantajoso
Gastar pesos na última hora, porém, pode ser uma boa pedida: no free shop, a moeda local é aceita pelo câmbio
oficial, mesmo que ela tenha sido comprada a uma cotação muito mais vantajosa pelo turista, no câmbio paralelo
Atenção às cotações evita que turista perca dinheiro na Argentina - Economia & Negócios Estadão
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