As healthtechs, startups de atendimento médico-hospitalar, prometem planos de saúde mais baratos. No entanto, mesmo essas empresas têm valor alto para pessoas mais velhas, como é comum acontecer nos planos tradicionais.
Para tentar baratear o custo de idosos, vale a pena contratar um plano de saúde de healthtech? Especialistas ouvidos pelo UOL dizem que o reajuste ser controlado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) é uma vantagem, mas ainda existem barreiras como o preço das mensalidades e a cobertura territorial.
Preço dos planos para pessoas acima de 59 anos
A healthtech Alice oferece planos de R$ 2.360 a R$ 5.332 para este público. Já na QSaúde, os valores variam de R$ 1.118,94 a R$ 3.951,42 e n Kipp Saúde, healthtech do grupo Omint, os planos vão de R$ 2.856 a R$ 6.772.
Para comparar como fica mais caro para idosos, na Alice Saúde, o plano mais barato de 0 a 18 anos varia de R$ 394 a 892. Na faixa dos 54 a 58 anos, os preços vão de R$ 1.529 a R$ 3.138.
Os planos tradicionalmente conhecidos por atenderem a população idosa, como Prevent Sênior, têm preços iniciais menores. As mensalidades de contratação variam de R$ 1.104,27 a R$ 1.589,90, de acordo com as informações do site da empresa. O plano São Cristóvão Saúde, da zona leste de São Paulo, bastante usado por idosos, tem preços a partir de R$ 699. Todos os valores consideram a faixa acima de 59 anos.
Troca de plano
A empresária Marta, 68, que preferiu não ser dar o nome completo, mora em São Paulo e trocou um plano da Prevent Sênior por um da QSaúde, mesmo pagando mais caro pelo serviço. Antes o plano custava pouco menos de R$ 1.000, com cobertura apenas de enfermaria, e hoje está na casa dos R$ 1.892 com cobertura de apartamento.
Marta estava insatisfeita com o atendimento do plano antigo e começou a buscar novas alternativas. A troca foi feita em agosto do ano passado e não se arrepende.
Em nenhum momento sentiu receio de fechar o contrato por ser uma healthtech e está satisfeita com o atendimento.
Alternativa à falta de planos individuais
Hoje existem poucas alternativas de planos de saúde individuais no mercado e, por isso, o surgimento de healthtechs ajuda a atender um público desassistido.
Giselle Tapai, advogada especialista em direito à saúde, diz que o aumento do número de healthtechs e novas soluções de saúde podem ajudar a atender melhor os idosos, que normalmente são mais vulneráveis.
Uma pesquisa da Distrito, uma plataforma de inovação voltada a startups, mostra que o número de healthtechs no Brasil cresceu de 248 em 2018 para 1.002 no ano passado.
A aposentada Paula de Sampaio Kern, 93, mora no Rio de Janeiro e tem um plano de saúde da Prevent Sênior desde novembro de 2020. O convênio foi escolhido pelo preço e por ter hospital credenciado mais próximo de sua casa.
"Eu tinha outros planos de saúde, mas migrei para a Prevent Senior. O plano não chega a R$ 900 para mim", afirma Paula. Apesar da falta de opções, a aposentada se diz satisfeita com o atendimento. Em algumas semanas, Paula precisa ir a três médicos diferentes.
Abrir um plano de saúde em uma healthtech não chegou nem a ser opção, na época, já que nem Paula nem a família conheciam esse tipo de plano.
Reajuste regulado pela ANS e digitalização
Todos as empresas do setor precisam seguir as regras da ANS, como atender a cobertura obrigatória da lista da agência e seguir o valor máximo de reajuste para os planos individuais e familiares.
Como os planos individuais são regulados pela ANS, o reajuste do plano individual é determinado pela agência, enquanto os coletivos não possuem um limite de aumento. Neste ano o reajuste máximo aprovado é de 15,5%.
Vanessa Gordilho, diretora-geral da healthtech QSaúde, afirma que uma das vantagens de ter um plano em uma healthtech é unir a tecnologia a favor do tratamento, além de defender o modelo de atendimento focado na prevenção a doenças.
Na prática, o paciente é atendido primeiro pelo médico que o acompanha sempre para depois ser encaminhado a um especialista, se necessário.
"Nós procuramos ter um plano mais acessível. O grande diferencial é que temos um plano individual, que faz com que o consumidor tenha a previsibilidade financeira", afirma Gordilho.
Leandro Rodrigues, gerente comercial da Kipp Saúde, afirma que outra vantagem ao consumidor, principalmente acima de 59 anos, é a criação de vínculo com os profissionais que o atendem.
"Esse processo muito próximo que a equipe de saúde promove aos clientes, principalmente para os acima de 59 anos, acaba sendo acolhedor. Você cria uma sinergia grande com os médicos", afirma Rodrigues.
Cobertura geográfica e preço dos planos ainda são barreiras
Matheus Falcão, advogado e pesquisador do programa de saúde do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), diz que as healthtechs seguem a lógica de prevenção a doenças dos pacientes para diminuir os custos operacionais -quando o plano atua só na assistência, tende a ficar mais caro.
Apesar da proposta de tornar a saúde mais acessível, a localização ainda é uma desvantagem aos consumidores que optam por esses planos.
"Ainda não existe uma comprovação de que esse modelo funcione para todo mundo. Normalmente essas empresas operam em grandes centros, locais que já são bem atendidos. É uma barreira a um consumidor de área mais interiorana", afirma Falcão.
A Alice Saúde tem cobertura em todo Brasil e a Casa Alice, clínica da empresa, fica em São Paulo. A QSaúde e a Kipp têm cobertura em São Paulo e municípios próximos, como Osasco, Guarulhos e ABC Paulista — dependendo do plano contratado.
O preço também costuma ser alto, e não é acessível para muitos brasileiros.
"Já recebemos reclamação de consumidor que não conseguiu fazer a portabilidade porque o preço da healthtech era mais alto que o plano que tinha", afirma Falcão.
Sergio Bivar, CEO e cofundador da Exmed, uma fintech que oferece seguros de saúde, diz que o mercado de healthtechs ainda não encontrou a fórmula ideal.
"A maioria se inspirou no conceito de médico de saúde e ainda não caiu no gosto do brasileiro. O preço é alto e alguns consumidores optam pelas empresas tradicionais por já conhecerem melhor", afirma Bivar.
Cuidados na hora de contratar o serviço
As healthtechs são regulamentadas pela ANS, assim como os planos de saúde tradicionais. Como a contratação é online, Tapai diz que os consumidores precisam redobrar a atenção para saberem o que de fato estão contratando.
"Em toda situação, o consumidor precisa olhar o contrato. As healthtechs são novas, o consumidor precisa entender o que está contratando. O brasileiro vai clicando os botões online, e às vezes há alguma pegadinha ou informação que não está bem clara", afirma Tapai. Para ela, é essencial consultar um advogado antes de assinar qualquer contrato de plano de saúde.
Apesar de serem uma opção ao consumidor que não encontra planos individuais no mercado, as healthtechs ainda possuem planos que são caros para a maioria dos brasileiros.
Algumas não são planos de saúde
Existem healthtechs que não vendem planos de saúde. Apenas oferecem consultas e exames a preços mais baixos, mas não têm uma estrutura hospitalar para internações. Isso é um cuidado que o consumidor precisa ter.
"Muitas não são planos, mas induzem o consumidor pensar que são. Para saber se é ou não, as operadoras sempre têm um número da ANS que precisa estar na página principal do site, um retângulo preto", afirma Falcão.
Se o consumidor não encontrar o número, ainda pode checar por meio do site da ANS. Basta informar o nome do plano, o tipo de contratação, a cobertura e a abrangência para avaliar se o plano existe (confira aqui).
Healthtechs têm planos de saúde individuais, mas idoso ainda paga mais caro - UOL Economia
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