O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça-feira (31) as elevações recentes da taxa básica de juros (Selic) diante da pressão inflacionária persistente observada em energia e alimentos e da dispersão da alta de preços.
"Algumas pessoas podem dizer que, se é uma inflação de energia e alimentos, o Banco Central não deveria estar subindo os juros porque são elementos muito voláteis que eventualmente vão cair. O problema é que, quando você tem elementos voláteis que ficam com um preço alto por muito tempo, eles começam a contaminar o resto da cadeia e os núcleos começam a subir. É isso que o Banco Central tem feito", disse Campos Neto em audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados.
O presidente do BC disse que o Brasil enfrenta uma inflação bastante alta, com o núcleo batendo 9,55%, e uma contaminação grande.
A audiência, pedida pelo deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), tinha o objetivo de discutir medidas de combate à inflação e o aumento da Selic.
No acumulado em 12 meses até abril, o IPCA (índice oficial de inflação) ficou em 12,13%, maior nível desde outubro de 2003 (13,98%). Na terça-feira da semana passada (24), o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) atingiu 12,20%, com elevação de 0,59% em maio, ante alta de 1,73% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador veio acima do esperado pelo mercado.
Segundo Campos Neto, "a inflação é o pior elemento em termos de distribuição de renda e planejamento". O trabalho do BC, afirmou, é fazer o máximo para trazer o indicador para a meta –ainda que a autoridade monetária já tenha reconhecido que há alta probabilidade de estouro em 2022 pelo segundo ano consecutivo.
O objetivo fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) a ser perseguido pelo BC para este ano é de 3,5% —com 1,5 ponto percentual de tolerância para mais ou para menos.
No dia 4 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,75% ao ano. Para a próxima reunião, em junho, sinalizou uma provável alta adicional de menor magnitude. Considerando a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia, o BC já mira 2023 como horizonte.
"Nosso trabalho é sempre fazer o máximo possível para a inflação estar na meta, mas sempre olhando o que consigo fazer para que esse processo aconteça com o mínimo de destruição do tecido produtivo da economia. Essa é a grande tarefa", afirmou aos parlamentares.
Na audiência, Campos Neto destacou que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2022 deve ser revisto para cima. No último relatório trimestral de inflação, o BC estimava alta de 1% do PIB para este ano. Os economistas, por sua vez, mostraram mais otimismo recentemente e passaram a projetar alta de 1,5% ou 2%.
"Quando a gente olha as projeções do FMI, o Brasil é um dos únicos casos que a previsão de crescimento subiu nos últimos meses para o ano de 2022. Aliás, vai subir mais do que está aqui, a gente teve reuniões na semana passada com economistas, a média dos economistas de mercado já está entre 1,5% e 2%", disse.
Quanto ao mercado de trabalho, o presidente do BC falou em surpresa positiva no dado informado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça.
Segundo o instituto, a taxa de desocupação recuou para 10,5% no trimestre encerrado em abril. É a menor marca para o período desde 2015 (8,1%), quando a economia enfrentava uma recessão.
De acordo com Campos Neto, já é possível vislumbrar um nível de desemprego abaixo de dois dígitos neste ano.
"A gente gerou mais empregos com renda menor, essa é a realidade, mas tem sido um movimento de geração de emprego surpreendente nos últimos meses", afirmou.
"A gente está começando a falar de desemprego neste ano que vai ser abaixo de dois dígitos, lembrando que antes da pandemia ele estava em 12%. A gente está com nível de desemprego bem melhor do que antes da pandemia", acrescentou.
Campos Neto defende atuação do BC diante da dispersão da inflação para outros setores - UOL
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