Na reta final do pregão, os investidores foram pegos de surpresa com a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro decidiu que o general da reserva Joaquim Silva e Luna não deverá continuar na presidência-executiva da Petrobras (PETR3;PETR4).
A notícia foi divulgada primeiro pela coluna Radar, na edição online da Veja, às 16h40 (horário de Brasília) desta segunda-feira (28), e chegou a impactar as ações da estatal, que já estavam em queda por conta do dia de baixa do petróleo.
Na mínima do dia, os papéis PETR4 chegaram a cair 4,09%, a R$ 30,98; contudo, nos minutos seguintes, as ações se recuperaram, ainda que fechando em queda de 2,17%, a R$ 31,60.
A notícia foi sendo destacada e confirmada por outros veículos na sequência, como Folha de S. Paulo, Valor e Reuters.
As fontes ouvidas pela Reuters citaram que o nome do executivo não está entre os conselheiros indicados pelo governo para formar o novo Conselho de Administração da estatal.
Uma assembleia de acionistas para renovar o conselho foi agendada para o dia 13 de abril. Assim, tal exclusão de Luna de tal lista indica que ele deve deixar comando da Petrobras.
O movimento ocorre após o presidente Bolsonaro expressar descontentamento com uma forte alta dos combustíveis anunciada pela Petrobras no início deste mês, de cerca de 25% no preço do diesel e do valor da gasolina em quase 19%, na esteira dos ganhos do petróleo no mercado internacional. A atuação da estatal e de Silva e Luna com o reajuste, inclusive, já tinha elevado os temores de interferência na companhia.
Questionado em meados deste mês, Bolsonaro afirmou que existia a “possibilidade” de substituição do atual presidente da Petrobras.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, lembra que essas notícias sobre a saída de Silva e Luna são divulgadas um pouco mais de um ano após a entrada do até agora CEO na companhia. O militar já havia entrado em um momento conturbado.
Em fevereiro do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro optou por retirar o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, do cargo, também por conta da alta dos preços dos combustíveis da época, a ação caiu mais de 20% em apenas uma sessão, enquanto o Ibovespa recuou mais de 5%.
O nome de Silva e Luna foi, à primeira vista, observado com desconfiança pelos investidores. Militar de carreira, atuou como ministro da Defesa em 2018 e foi o primeiro militar a comandar a Petrobras desde a década de 80.
Contudo, muitos nomes próximos a ele afirmaram que o nervosismo do mercado seria exagerado, já que ele possuía um histórico de cortes agressivos de custos, algo não muito diferente de seu antecessor.
Em seu discurso de posse, em 20 de abril do ano passado, Silva e Luna adotou um tom conciliador, o que impulsionou as ações. Na gestão Luna, a Petrobras buscou seguir a sua política de paridade de preços de combustíveis, mas evitando repassar volatilidades do mercado de petróleo imediatamente.
Os analistas voltaram, aos poucos, a ficar mais confiantes com a companhia, mesmo que destacando o risco político no radar, ainda mais em meio à proximidade das eleições de outubro.
As fontes de pressão, contudo, foram se avolumando nos primeiros meses de 2022 em meio à alta dos preços do petróleo, intensificada com a invasão da Ucrânia pela Rússia, que fez o preço do brent subir mais de 20% apenas no primeiro mês do conflito, iniciado em 24 de fevereiro. A Petrobras anunciou um reajuste em um cenário já de forte alta da inflação, gerando descontentamento no meio político e levando a uma “fritura” de Silva e Luna no governo e na estatal.
Para Cruz, da RB, alguns pontos podem ser ponderados ao falar da reação mais branda da ação hoje frente fevereiro de 2020, com a última troca, uma vez que vê um conselho de administração mais ativo e o acionista mais protegido, sendo que o CEO da estatal tem menos poder de interferência na companhia.
Além disso, em um mês de guerra na Ucrânia, na contramão das petrolíferas, os papéis ON da Petrobras recuaram 6,14%, enquanto os PN da estatal caíram 7,6%, já refletindo a percepção de maior interferência política.
Na mesma linha, a corretora Ativa destaca que, “embora a decisão seja igual à tomada um ano atrás, quando o Executivo decidiu não reconduzir Castello Branco e indicar o General Silva e Luna à presidência da Petrobras, os desdobramentos do fato para as ações hoje se deram de forma bem mais contida”, o que aconteceu “pela hora na qual a notícia foi divulgada e pelo mercado já trabalhar há semanas com a possibilidade de a mudança ser executada”.
Cabe destacar também a provável escolha por um nome de dentro do setor, o que pode ter ajudado a amenizar a queda dos ativos, ainda que haja muita especulação sobre o possível substituto de Silva e Luna.
Segundo informações da Folha e da Veja, Adriano Pires, atual diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, está entre os mais cotados para assumir o comando da Petrobras.
O seu nome é bastante conhecido no setor, com atuação de mais de 30 anos na área. Ele foi assessor do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Superintendente de Importação e Exportação de petróleo, seus derivados e gás natural e Superintendente de Abastecimento. Pires é Doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII (1987), Mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ (1983) e Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1980).
Em coluna para o InfoMoney publicada no último dia 13 de março, Pires destacou que a Petrobras errou em ficar tanto tempo sem reajustar os preços, criando defasagens muito elevadas em relação ao mercado internacional, alertando também para o risco crescente de desabastecimento. Assim, saudou o aumento de preços e a autonomia da Petrobras na determinação da sua política, além de projetos de lei aprovados no Congresso para diminuir o impacto da alta das cotações para o consumidor.
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