A disparada do preço do petróleo no mercado internacional provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia reaviva preocupações de investidores sobre o debate político quanto à paridade internacional de preços da Petrobras. As ações da companhia passaram a cair na manhã desta segunda-feira (7) após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado o sistema que equipara o valor dos combustíveis no Brasil à flutuação da cotação da matéria-prima e do dólar.
"Tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional [dos combustíveis]. Ou seja, o petróleo —o que é tirado do petróleo— leva-se em conta o preço fora do Brasil. Isso não pode continuar acontecendo", disse Bolsonaro, durante entrevista a uma rádio de Roraima.
Após as declarações, os papéis da companhia iniciaram um movimento de queda. Às 11h52, as ações preferenciais da companhia (que não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos) cediam 1,23%, a R$ 33,81. Os papéis ordinários (com direito a voto) recuavam 2,25%, a R$ 36,15.
A queda da petroleira controlada pelo governo exercia nesta manhã a principal pressão negativa sobre a Bolsa de Valores brasileira. O Ibovespa, índice de referência do mercado de ações do país, caía 0,50%, a 113.897 pontos.
Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, diz que a Petrobras sofre os efeitos negativos da pressão gerada pela alta dos preços, mas avalia que o real impacto somente será conhecido caso o governo anuncie quais são seus planos sobre o tema.
"Se for algo momentâneo, as ações da Petrobras vão sofrer menos. Mas se for algo como antes de 2016 [quando a Petrobras passou a acompanhar os preços internacionais], prejudicará muito mais", comentou.
Preocupações sobre o petróleo atingiam também empresas privadas do ramo. A PetroRio recuava 2,55%, com um volume de negociações com peso relevante para a baixa da Bolsa.
Os prejuízos na Bolsa não eram suficientes para interromper a trajetória de queda do dólar, que cedia 0,29%, a R$ 5,0630. A moeda americana vem caindo devido à entrada de investidores estrangeiros no país. Eles são atraídos ao mercado financeiro doméstico por uma combinação de juros altos, real desvalorizado, ações baratas na Bolsa e commodities (petróleo, minério e grãos) com potencial de valorização em um cenário de possível escassez devido à guerra.
Nesta segunda, um possível embargo ocidental ao setor energético russo provocou a disparada dos preços do petróleo e do gás natural, assim como a queda das Bolsas ao redor do mundo.
O preço do barril de Brent, referência para o preço mundial da commodity, estava em US$ 120,58 (R$ 611,96) no fim desta manhã. No domingo à noite, chegou perto dos US$ 140 (R$ 710), próximo do recorde de US$ 147,50 (R$ 748) de julho de 2008.
Mercados globais de ações recuavam nesta segunda em meio às preocupações que a alta do petróleo traz sobre a inflação.
Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuavam 0,72%, 0,57% e 0,59%, respectivamente.
Há no país a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) comece neste mês a tirar do zero a taxa de referência para os juros.
Quanto maior a pressão inflacionária, mais agressiva poderá ser a alta dos juros –nos Estados Unidos e também em outras economias desenvolvidas, reduzindo a disponibilidade de dinheiro e o interesse de investidores para aplicações arriscadas em bolsas de todo o mundo.
Na Europa, o índice que acompanha as 50 principais empresas de países que possuem o euro como moeda recuava 0,33%. A Bolsa de Londres subia 0,09%. Paris e Frankfurt cediam 0,60% e 1,13%, respectivamente.
Mercados asiáticos afundaram nesta segunda. As Bolsas de Tóquio, Hong Kong e Xangai fecharam com quedas de 2,94%, 3,87% e 3,19%, nessa ordem.
Expectativas do mercado sobre a alta da inflação também prejudicavam o desempenho dos setores de varejo e transporte do mercado de ações do Brasil. No topo da lista de ações em quedas nesta segunda estavam companhias como Gol, Azul, Pão de Açúcar e Natura.
Ações da Petrobras caem após crítica de Bolsonaro a preço - UOL
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