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Friday, February 25, 2022

Como a invasão da Ucrânia pela Rússia atingirá a economia global - Folha

Um conflito que pode se tornar o maior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial acabou com as esperanças de uma forte recuperação econômica global após o coronavírus, pelo menos em curto prazo.
A invasão da Ucrânia pela Rússia na quinta-feira (24) abalou os mercados financeiros, e o aumento das tensões geopolíticas deve exacerbar a inflação já alta e os gargalos na cadeia de suprimentos.

Os impactos diretos do menor comércio com a Rússia, as sanções econômicas impostas a Moscou pelos Estados Unidos e pela União Europeia e o contágio financeiro provavelmente ficarão aquém das consequências indiretas sobre a confiança das empresas e do consumidor e os mercados de commodities, na opinião de economistas.

Essas repercussões podem variar de relativamente limitadas a extremamente graves. Se os preços da energia continuarem a subir, por exemplo, poderão facilmente levar a economia global a uma segunda recessão em três anos.

Economistas disseram que as seguintes questões são as principais a se observar.

Quão grave será a guerra?

O objetivo final desejado pelo presidente russo, Vladimir Putin, não é claro. Os analistas estão considerando vários cenários que vão da troca de governo em Kiev para um regime amigo de Moscou a uma tentativa generalizada de redesenhar as fronteiras da Europa, e mais.

Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, disse que a primeira coisa a considerar é "quão grave será a guerra?" —o que determinaria a provável resposta dos mercados financeiros e de energia nos próximos dias.

A reação global mais ampla será igualmente crucial, disseram outros economistas. Tim Ash, da BlueBay Asset Management, destacou a China, que sinalizou sua disposição a ajudar a Rússia a administrar as consequências financeiras de suas ações militares.

A resposta de Pequim seria vital em termos de consequências mais amplas, que podem variar de malignas —por exemplo, maior tensão em seu próprio relacionamento com Taiwan— a resultados diplomáticos mais benéficos.

"Ou [a China] vê isso como uma oportunidade de entrar em Taiwan ou como uma oportunidade de melhorar as relações com os EUA", disse Ash.

Os mercados são capazes de resistir ao choque geopolítico?

Os principais mercados financeiros globais caíram acentuadamente na quinta, mas o resultado poderia ter sido mais radical, sugerindo que eles ficaram surpresos com as ações de Putin, mas ainda não acreditam na probabilidade de choques de mercado mais graves, semelhantes a uma crise financeira. Isso deixa em aberto a possibilidade de que os mercados tenham que cair ainda mais, com consequências para a riqueza das empresas e das famílias, o consumo e a confiança global.

Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, observou que, embora tenha havido uma liquidação de ações, os rendimentos dos títulos caíram e os spreads de crédito não aumentaram muito, sugerindo que a reação do mercado foi ordenada e ainda não indica expectativas de uma guerra mais ampla em toda a Europa.

A prevenção de um colapso do mercado não foi global, e muitas economias emergentes foram atingidas por oscilações muito mais acentuadas. Kevin Daly, gerente de portfólio da Aberdeen Asset Management, observou fortes vendas em Gana, Turquia, Egito e Paquistão, citando uma fuga para a segurança de países financeiramente vulneráveis.

Randy Kroszner, vice-reitor da Escola de Administração Booth da Universidade de Chicago e ex-governador do Federal Reserve, disse que os riscos de recessão apareceriam na diferença dos rendimentos da dívida com grau de investimento em comparação com a dívida sem grau de investimento, que não se ampliou amplamente na quinta-feira.

Ele acrescentou que os rendimentos da dívida soberana de países geograficamente próximos à crise podem oferecer um bom indicador de se os mercados começaram a temer um conflito mais amplo.

Até que ponto a confiança pode ser atingida?

Será crucial para a economia global se as famílias e as empresas se tornarem significativamente mais cautelosas, gastando menos e poupando mais em reação aos atos da Rússia.

Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, disse que um crescimento mais lento é inevitável. "O sentimento do consumidor em todos os lugares enfraquecerá ainda mais. (...) Isso deve significar um crescimento econômico mais lento do que seria esperado na Europa, nos EUA e na maioria dos mercados emergentes", acrescentou.

Susannah Streeter, analista sênior de investimentos e mercados na Hargreaves Lansdown, disse: "Dependendo de quanto tempo essa crise continuar, poderá haver uma perda significativa de confiança entre empresas e consumidores".

Economistas também alertaram sobre as pressões nas empresas expostas a cadeias de suprimentos em que a Rússia desempenha um papel crucial, mas pouco conhecido, como a produção de matérias-primas críticas. O país fornece cerca de 40% do paládio mundial, um componente chave de conversores catalíticos em veículos movidos a gasolina, bem como dispositivos eletrônicos.

Como as preocupações energéticas afetam o quadro mais amplo da inflação?

A Europa é altamente dependente do gás da Rússia e não poderá encontrar suprimentos alternativos rapidamente se os gasodutos forem cortados. Com um inverno ameno chegando ao fim e os estoques em toda a Europa mais altos do que o esperado por alguns analistas do setor, a questão do abastecimento de gás tornou-se menos aguda, mas retornará no final do ano se a crise continuar.

A preocupação mais imediata é o impacto da crise no preço do petróleo, gás e outras commodities. Um aumento acentuado aumentaria a inflação e atingiria os consumidores.

"Nossa modelagem sugere que, no pior cenário, os preços do petróleo podem subir para US$ 120-US$ 140 o barril", disse Shearing, da Capital Economics. "Se for mantido pelo resto deste ano, e tivermos um aumento correspondente nos preços do gás natural europeu, isso adicionaria cerca de dois pontos percentuais à inflação da economia avançada —mais na Europa, menos nos EUA. Isso é um aperto adicional na renda real."

Shepherdson, da Pantheon, disse que os EUA estarão relativamente isolados em geral, embora o aumento contínuo dos preços # atinja os produtores de petróleo e gás de xisto, mas atinja os bolsos dos consumidores americanos.

Isso pode reforçar a pressão sobre os bancos centrais para aumentar as taxas de juros. O Federal Reserve dos EUA já sinalizou no mês passado que começaria a aumentar as taxas a partir de março para controlar a inflação desenfreada. Em janeiro, o presidente do Fed, Jay Powell, se recusou a dizer quantos aumentos de juros haverá este ano.

Krishna Guha, vice-presidente da Evercore ISI, disse que a invasão na Ucrânia "complica a capacidade dos bancos centrais de ambos os lados do Atlântico de projetar um pouso suave após o surto de inflação pandêmico", e espera que os mercados financeiros reduzam as expectativas de que os bancos centrais aumentarão as taxas de juros.

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