De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 10,5% das famílias não têm condições de pagar as dívidas que estão em atraso
O Brasil fechou o ano de 2021 com recorde de famílias endividadas: sete em cada 10 núcleos estão com alguma conta em atraso. O percentual médio de 70,9% é o maior da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), desenvolvida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde maio de 2010.
O recorde anterior era de 66,5%, referente à mediana de 2020. De acordo com a CNC, o percentual de famílias endividadas deu sinais de alta durante todo o ano passado, mas decolou a partir de maio.
O aumento do endividamento a partir do quinto mês de 2021 não é por acaso. Foi justamente nesse período em que boa parte das cidades brasileiras flexibilizou suas atividades comerciais por conta da pandemia. Com a reabertura, o consumo cresceu.
Em dezembro, por exemplo, a proporção de endividados alcançou o patamar máximo histórico: 76,3%, informa a CNC.
Quanto às regiões, o percentual de endividados é maior no Sul do Brasil: 81,7%. No Sudeste, onde está a maior concentração de renda do País, a taxa é de 69,1% – a menor medida pela pesquisa.
Corda no pescoço
Além do percentual de famílias com dívidas, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) levantou quantos brasileiros não têm condições de pagar suas contas.
De acordo com a pesquisa, em média, 10,5% das famílias não tiveram condições de arcar com suas dívidas em 2021. Essa é a segunda maior mediana da série histórica, atrás apenas de 2020: 11%.
Para a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa da CNC, o prognóstico para este ano segue a mesma tendência do fim de 2021, ao menos nesses primeiros meses: endividamento em alta, precarização do trabalho e contas chegando.
"As famílias, nesse início de ano, vão enfrentar as mesmas dificuldades que trouxeram de 2021, como por exemplo a inflação alta e disseminada. O mercado de trabalho ainda fragilizado, com a geração de vagas formais concentradas em áreas de baixa remuneração", afirma.
Segundo a especialista, as contas do início de ano também pesam no orçamento: IPTU, IPVA e material escolar, principalmente. "Já temos um número bastante expressivo de famílias endividadas. Então, isso dificulta ainda mais o equilíbrio das contas. (É preciso) evitar as despesas consideradas supérfluas", analisa.
Cartão de crédito é vilão
Entre as famílias consideradas mais ricas, a demanda represada, em especial pelo consumo de serviços, fez o endividamento aumentar ainda mais expressivamente, em especial no cartão de crédito.
Em média, 82,6% das famílias brasileiras com algum débito deviam justamente a fatura do crédito em 2021. Na sequência, aparecem os carnês (18,1%) e os financiamentos de veículos (11,6%).
Para a economista Izis Ferreira, a inflação de 10% (conforme o IPCA) em 2021 fez com que as famílias recorressem ao crédito para pagar suas contas.
"As famílias precisaram recorrer ao crédito para recompor a renda ou retomar o consumo de bens e serviços. Entre aquelas com até 10 salários-mínimos de renda mensal, a inflação foi a grande vilã. Ela tirou espaço do orçamento e o poder de compra", explica Izis.
Para ela, quem não sabe como pagar seus débitos deve procurar as instituições financeiras (no caso do cartão de crédito) para tentar uma renegociação. O mesmo vale para quem deve outras pessoas jurídicas, como no caso dos financiamentos de veículos.
Metodologia
A CNC ouviu cerca de 18 mil consumidores de todos os estados e do Distrito Federal para apurar os dados.
“O aspecto mais importante da pesquisa é que, além de traçar um perfil do endividamento, permite o acompanhamento do nível de comprometimento do consumidor com dívidas e sua percepção em relação à sua capacidade de pagamento”, informa a confederação.
Recorde: Brasil fecha 2021 com 70% das famílias endividadas - O Tempo
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