RIO - O aumento no preço das passagens de avião e a retomada da economia com o avanço da vacinação têm impulsionado a procura pelas viagens de ônibus Brasil afora. A expectativa do setor é que até dezembro deste ano sejam vendidos 3,1 milhões de bilhetes rodoviários, mais que os 2,7 milhões comercializados em 2019, antes da pandemia, segundo projeções da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati). A maior procura, porém, deve levar ao aumento dos preços.
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Segundo as empresas, a demanda tem sido influenciada sobretudo pelo turismo interno, pois vários países ainda mantêm restrições. Para a Abrati, o feriado de 12 de outubro comprovou a maior procura nas viagens de ônibus no país: o número de embarques aumentou 30% em relação ao Sete de Setembro. As regiões Norte e Nordeste, diz Letícia Pineschi, diretora e conselheira da Abrati, já ultrapassaram o período pré-pandemia:
— O resto do país vai chegar ao patamar de 2019 no início de dezembro. Há uma tendência de troca do avião pelo ônibus por conta dos preços altos das passagens. No setor rodoviário, as empresas estão segurando grande parte dos custos, como os preços do diesel e do pneu. Apesar do aumento no número da venda de passagens, as receitas das empresas ainda não vão se recuperar neste ano.
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Procura crescente
O empresário Marcelo Resende, sócio da Mei Mineiro, que vende produtos típicos de Minas Gerais na Cadeg, usa a linha Rio-Belo Horizonte regularmente para visitar a família e também a trabalho. Segundo ele, a maior vantagem é o custo:
— É metade do preço, e o tempo é apenas um pouco maior que se fosse de avião. Então, vale a pena. Além disso, tenho optado em comprar passagens de leito, para ter um conforto maior. Até agora os preços não subiram, e a ocupação é sempre um pouco mais da metade. Vamos ver como vai ficar daqui para frente — conta Resende.
Dados da ClickBus, site que comercializa passagens de diferentes empresas, mostram que o preço médio no primeiro semestre deste ano ficou em R$ 86, pouco acima dos R$ 84 do segundo semestre de 2020, mas abaixo dos R$ 93 do primeiro semestre do ano passado.
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Para Phillip Klien, presidente da ClickBus, os preços das passagens de ônibus tendem a subir por conta da demanda maior e do aumento dos preços em geral. No setor aéreo, a alta supera 60%, conforme o IBGE. Só o querosene de aviação teve aumento de 91,7% no segundo trimestre deste ano ante 2020, segundo a associação do setor, a Abear.
— A procura por passagens de ônibus começou a ganhar força em julho. Em outubro, a taxa de ocupação chegou a 83%, a maior desde o início da pandemia. A meta é fechar o ano com alta de 50% em relação ao ano passado e avanço entre 10% e 15% ante 2019. Há demanda reprimida, as passagens aéreas estão mais caras e as rotas curtas de ônibus estão crescendo, pois o brasileiro está voltando a viajar — diz Klien, ressaltando que a empresa tem hoje 70% das rotas que tinha em 2019.
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Pacotes turísticos
Esse movimento ganha força também com o turismo nacional. Muitas agências vêm selando parcerias com empresas regionais de ônibus na hora de vender pacotes turísticos. Segundo a ClickBus, destacam-se rotas entre Rio, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Maringá e Florianópolis.
— Muitas agências estão retomando os projetos de excursões rodoviárias. Estas deverão aumentar bastante com a melhora da pandemia e a alta nos preços das passagens aéreas. Há uma maior busca por viagens de experiência com lugares com natureza e história. No Ano Novo, a viagem vai ser de ônibus — prevê a consultora de viagens Claudia Wischansky.
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Gustavo Rodrigues, diretor-presidente do Grupo JCA, dono de 1001 e Cometa, prevê para o último trimestre deste ano incremento de cerca de 40% na procura de passagens. As vendas, diz, começaram a ganhar força nos últimos dois meses.
Segundo Rodrigues, apesar de o setor estar em um processo de recuperação gradual, a companhia acelera os investimentos. No começo deste ano, conta, foram adquiridos 271 novos veículos. A expectativa é fechar o ano com 1.200. Ele destaca uma alta de 16% no fretamento corporativo.
— Os preços têm sido um desafio para praticamente todos os segmentos do mercado. Por outro lado, também há oportunidades. A economia em viajar de ônibus em relação ao carro, neste atual cenário e a depender da rota, por exemplo, pode chegar a 50%, considerando o preço da passagem tradicional — diz Rodrigues.
Na Rodoviária do Rio (ex-Novo Rio), no Centro, a expectativa é embarcar 570 mil pessoas em dezembro, o mesmo patamar do mesmo mês de 2019 e quase o dobro dos 287 mil registrados no ano passado. Segundo Bia Lima, porta-voz da Rodoviária, o movimento nos últimos dois meses vem aumentando. No terminal, 41 empresas oferecem três mil destinos.
— As empresas ainda não recuperaram a taxa de ocupação total de seus ônibus, e pode ser que isso seja recuperado em dezembro. Mas o terminal possui capacidade para operar, por hora, em cada plataforma, cerca de 234 embarques ou desembarques — ressalta Bia Lima.
Novas conexões
A Util, dona de marcas como Sampaio, Brisa e Real Expresso, também espera aumento de demanda para este fim de ano. Além do turismo, muitas empresas começam a voltar de forma mais consistente ao escritório, puxando a demanda do mercado corporativo por passagens. Leticia destaca cidades como São José dos Campos, em São Paulo, e Volta Redonda, no Rio.
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— Estamos criando novas ligações, aumentando as frequências diretas de forma a dar mais conforto. Compramos 33 veículos novos, sendo alguns com leito total e outros com semileito. Temos uma área na empresa só para atender à demanda corporativa. Os leitos e semileitos já somam 12% das vendas de todo o setor, atrás das passagens da classe executiva (30%) e da convencional (57%), a mais usada.
Na estrada: alta no preço de passagens aéreas faz brasileiros trocarem avião por ônibus - Jornal O Globo
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