Famílias com renda menor são atingidas por uma inflação acumulada maior, acima de 10% em 12 meses, indica novo estudo da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) divulgado nesta terça-feira (9).
O quadro preocupa porque a camada da população com salários inferiores tem menos condições financeiras para lidar com a carestia de itens básicos para o seu bem-estar, como alimentos, gás de botijão e energia elétrica.
O estudo da Fipe utiliza dados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), calculado pela fundação no município de São Paulo.
A novidade é a divisão dos resultados de acordo com três faixas de renda. O objetivo é mostrar que a alta dos preços afeta a população de formas diferentes.
No acumulado de 12 meses, até outubro, a faixa com renda familiar menor, de um a três salários mínimos, registrou inflação de 10,63%. É o maior percentual da pesquisa realizada na capital paulista.
Na camada intermediária, com rendimento familiar de três a oito salários mínimos, a alta foi de 10,38% no mesmo período.
A menor inflação em 12 meses foi verificada entre as famílias com renda maior (acima de oito salários mínimos): 9,67%.
Segundo a Fipe, o avanço dos preços na faixa da população com menos recursos foi puxado por alimentação e habitação.
Isso ocorre porque os dois grupos pesam mais nas despesas dessa camada e reúnem itens que dispararam ao longo da pandemia.
Os alimentos ficaram mais caros com a demanda aquecida por commodities agrícolas no mercado internacional e o dólar alto.
Já o grupo de habitação abrange itens como energia elétrica e gás de botijão, que subiram com a crise hídrica e o aumento dos combustíveis, respectivamente.
"A perda de poder de compra e bem-estar é imensa", define o pesquisador da Fipe Guilherme Moreira, coordenador do IPC.
"Com a inflação, a renda alta deixa de trocar de carro, de viajar, mas não deixa de se alimentar. Para a renda mais baixa, há uma perda de qualidade de vida."
No acumulado deste ano, até outubro, a faixa de um a três salários mínimos também sente uma elevação mais firme dos preços: 8,5%.
No mesmo período, a camada intermediária (três a oito salários mínimos) teve inflação de 8,43%. Na renda alta (superior a oito salários mínimos), o avanço foi de 7,84%.
"Todos sentem impactos consideráveis. Mas a inflação é muito mais perversa para a baixa renda, que tem poucos mecanismos para compensar a alta de preços. As famílias mais ricas conseguem se proteger melhor", analisa Moreira.
No mês de outubro, a renda alta até teve uma inflação levemente superior aos demais grupos. A alta dos preços para essa camada foi de 1,06%, com o impacto de itens como viagens e gasolina.
A inflação entre a renda mais baixa foi de 1,02% em outubro. Na faixa intermediária, o avanço ficou em 1%.
Durante a pandemia, a escalada inflacionária e as dificuldades no mercado de trabalho espalharam no país cenas de pessoas em busca de doações e até de restos de comida.
Em Fortaleza (CE), por exemplo, um vídeo recente mostra um grupo à procura de alimentos em um caminhão de lixo.
Outros casos que ficaram conhecidos foram registrados no Rio de Janeiro, onde um caminhão distribuía restos de carne, e em Cuiabá (MT), que teve filas em busca de doações de ossos de boi.
Inflação acumulada é maior para famílias com salários menores - Folha
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