SÃO PAULO – Entre os quatro grandes bancos de capital aberto, havia uma expectativa por grande parte dos analistas de que o Banco do Brasil (BBAS3) seria um destaque positivo no terceiro trimestre – e o banco estatal não decepcionou.
O BB apresentou um lucro líquido ajustado de R$ 5,1 bilhões no terceiro trimestre de 2021, representando um crescimento de 49,4% comparado ao terceiro trimestre de 2020 e 2% superior ao segundo trimestre de 2021. Em comparação às projeções da Refinitiv para o lucro do Banco do Brasil, que era de R$ 4,496 bilhões, o resultado veio 14,3% acima das expectativas.
Os números, além do dia mais positivo do mercado, fizeram com que as ações subissem até 3,87% na máxima do dia ainda que, durante a tarde, tenha amenizado a alta, fechando praticamente estável, com leve queda de 0,14%, a R$ 29,44.
O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) foi 14,3% no trimestre, em linha com o apresentado no segundo trimestre.
A receita de serviços, por sua vez, apresentou crescimento de 2,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, a R$ 7,28 bilhões, com destaque para os serviços de administração e gestão de recursos.
Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, o bom resultado de lucro pode ser atribuído principalmente ao forte crescimento da margem financeira líquida, 38,2% na base anual. O banco também mostrou um bom controle de despesas administrativas, que ficaram praticamente estáveis em relação ao mesmo trimestre de 2020.
Um outro ponto positivo do resultado foi a queda na inadimplência para 1,82%, significativa mais baixa em relação aos 2,43% apresentados no terceiro trimestre de 2020, momento impactado pela pandemia.
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Também em destaque, esteve o índice de cobertura, que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes. Ele está sendo especialmente acompanhado pelos analistas de mercado, ainda mais levando em conta o cenário de possível aumento da inadimplência com o cenário macroeconômico mais desafiador. .
“Acompanhando o forte crescimento da carteira, o BB aumentou o provisionamento, o que levou a um índice de cobertura de 323%, muito superior aos seus pares privados (250% do Santander, 297% do Bradesco e 234% do Itaú)”, ressalta a XP.
Esse fator, associado à queda da inadimplência, aponta a XP, reforça a visão dos analistas da casa de que o Banco do Brasil possui uma carteira mais defendida e mais bem preparada para cenários mais difíceis.
Para Vitor Pini, Matheus Odaguil e Artur Alves, analistas da XP, o Banco do Brasil teve bons resultados em todos os sentidos, com o crescimento de sua carteira de crédito refletindo em um faturamento mais alto, enquanto suas despesas se mantiveram baixas, o que levou ao crescimento do lucro operacional em 53% na base anual, sendo assim 19% acima das expectativas da casa, apesar do maior provisionamento.
A carteira de crédito da companhia atingiu R$ 814 bilhões em setembro, um crescimento de 11,4% na comparação anual, com destaque para o segmento de empréstimo pessoal, que teve alta de 14,2%.
Por outro lado, alguns analistas apontaram para fatores não-recorrentes que levaram a esses números tão expressivos. O Bradesco BBI aponta que o desempenho foi impulsionado principalmente pelo maior resultado líquido de intermediação financeira (NII), com alta de 9,6%, em maiores ganhos de tesouraria, enquanto o NII com clientes ficou abaixo do projetado pelos analistas do banco. “Temos dúvidas sobre quão sustentável é o nível de ganhos de tesouraria”, apontam os analistas.
O Credit Suisse também acredita que os fortes resultados da tesouraria do BB possam diminuir até certo ponto nos próximos trimestres. Porém, avalia que isso poderá se normalizar em um nível mais alto devido à melhor margem de depósito com base em taxas mais altas.
O BBI também ressalta que a qualidade geral dos ativos mostrou tendências subjacentes positivas, apesar da taxa de inadimplência se beneficiar parcialmente da venda de carteiras corporativas, enquanto o índice de cobertura permaneceu em um nível elevado.
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O Safra também reforça que, apesar de a solidez dos resultados de Tesouraria e Previdência não parecerem tão recorrentes, destaca-se o bom desempenho de outras linhas, tais como: volumes de crédito e melhora de seu mix, qualidade de crédito muito saudável, leve recuperação das receitas de serviços e decentes controle de custo.
Após a divulgação dos números do terceiro trimestre, o Banco do Brasil ainda melhorou suas expectativas de resultado (guidance) para 2021, com previsão de crescimento da carteira passando de 8-12% para 14-16%, o que suporta uma margem financeira mais alta e também o lucro líquido.
“Além disso, gostaríamos de destacar que: i) o banco espera continuar apresentando forte crescimento de sua carteira rural ao longo do ano, o que corrobora nossa visão de uma carteira mais protegida em relação os outros bancos e ii) a nova estimativa de lucro líquido do BB supera nossa estimativa para o ano de R$ 18,8 bilhões mesmo na parte inferior do guidance”, ressalta a XP. O novo lucro estimado pela instituição é entre R$ 19 bilhões e R$ 21 bilhões no ano.
Em teleconferência, José Ricardo Forni, vice-presidente de gestão financeira do banco estatal, destacou ainda que o BB pretende acelerar os desembolsos de empréstimos em linhas de crédito mais arriscadas para aumentar a rentabilidade nos próximos trimestres.
Forni disse que a carteira de empréstimos do banco deve apresentar um crescimento de um dígito alto no próximo ano, impulsionado principalmente pelos segmentos de pessoa física e pequenas empresas. O índice de inadimplência dos empréstimos do BB ainda deve ficar abaixo da média do sistema financeiro, acrescentou.
Valuation barato X risco estatal
Para o futuro, o BBI destaca que “todos os olhos devem estar voltados para como esses fundamentos se comportarão em um cenário macro mais desafiador em 2022”, em meio ao cenário mais desafiador, com economistas reduzindo as projeções para os indicadores macroeconômicos..
Mas, além disso, está no radar o fator político. Ele é levado em conta pelos analistas do Credit que, apesar de avaliarem que o momento de lucro melhor que o esperado possa ser um catalisador do papel no curto prazo, preferem se posicionar no setor nos bancos privados considerando as eleições presidenciais do ano que vem. Assim, o banco suíço mantém recomendação neutra para os ativos, com preço-alvo de R$ 38. Assim, como o Credit, o BBI mantém recomendação neutra para BBAS3, com preço-alvo de R$ 39.
Para a Levante, os principais catalisadores para as ações do Banco do Brasil passam principalmente por uma mudança na percepção de risco, o que envolve uma mudança de percepção em relação a possíveis interferências do governo na Instituição.
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“Não podemos nos esquecer dos acontecimentos do começo do ano, quando, após um programa para melhora de eficiência, tivemos uma reação negativa por parte do PR, e pela performance da carteira de empréstimos do banco num ano bastante desafiador como será 2022, já que, assim como os outros bancos, esperamos uma volta da inadimplência para valores históricos”, aponta a equipe de análise da casa de research.
Por outro lado, destacando principalmente o valuation, o Safra reiterou a recomendação de compra para o BB, com preço-alvo de R$ 48,00 para o final de 2022. “Atualmente, a ação do banco é uma de nossas preferências no setor, devido ao valuation extremamente baixo (múltiplo de preço sobre o lucro esperado para 2022 de 4,3 vezes, abaixo de sua média histórica de 5 anos, de 7,1 vezes), combinado com a perspectiva de crescimento robusto dos lucros à frente”, avaliam os analistas. A XP também reiterou recomendação de compra e preço alvo de R$ 52 por ação, assim como o Bank of America, que tem preço-alvo de R$ 44 para o ativo.
Analistas têm se mostrado divididos com relação às ações do BB na comparação com os bancos privados, ainda que vejam bom potencial de valorização no papel. Conforme compilação da Refinitiv, de 17 casas que cobrem os ativos BBAS3, 8 têm recomendação neutra e 9 têm recomendação de compra, com preço-alvo médio de R$ 43,96, ou potencial de alta de 49% em relação ao fechamento de segunda-feira. Assim, entre o valuation barato e a proximidade das eleições, analistas seguem divididos com o papel.
(com informações da Reuters)
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