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Saturday, October 2, 2021

Inflação do churrasco de 17,5% tira o sabor do lazer no fim de semana; confira as altas da carne e da cerveja - Jornal Extra

Nem na hora de escapar dos problemas do dia a dia para encontrar com os amigos e a família com uma carne na brasa e uma cerveja gelada o brasileiro consegue escapar da inflação indigesta. A alta média de preços, que já supera 10% em um ano, deixa sua marca também naquele que é um patrimônio da classe média: o churrasco do fim de semana.

A carne é um dos principais vilões da alta de preços e, nos últimos 12 meses, a “inflação do churrasco” subiu mais de 17%, segundo cálculo feito pela Fundação Getulio Vargas a pedido do EXTRA. Mais até que a média dos alimentos e bebidas, que está em 13,36%.

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Picanha, linguiça e alcatra subiram mais de 20%. E a conta não inclui ainda o que já está sendo chamado de golpe de misericórdia na alegria do brasileiro: desde ontem a cerveja está em média 10% mais cara no país.

Nos últimos meses, a disparada da inflação corroeu a renda já combalida dos brasileiros e ajudou a empurrar milhões de brasileiros para a miséria e a fome.

Na classe média, o jeito foi mudar os hábitos e adequar o cardápio. Na casa do estudante de Economia João Pereira, de 22 anos, a picanha deu lugar à linguiça. Se antes a compra do churrasco era de 2kg de carne para cada 1kg de linguiça, agora é 1,5kg para cada. A linguiça, além de ser mais barata, subiu menos que a carne de boi. O quilo da picanha aumentou 28,99% e o da linguiça, 21,38%.

Ainda assim, a conta subiu: de R$ 130 em média que a família gastava antes de acender a brasa para R$ 200 agora.

Dólar e demanda da China

Até a carne de segunda, que foi a alternativa para quem teve de apertar o orçamento, está ficando proibitiva, com “preço de carne de primeira”, reclama Pereira:

— Diminui muito a vontade de fazer um churrasco. Afeta na hora de escolher o que a gente vai consumir. Aí você tem que escolher outra coisa, em vez de fazer churrasco, porque o preço está inviável.

O economista Matheus Peçanha, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), explica que a subida forte do dólar e o aumento da demanda por carnes em geral da China fizeram disparar o preço da proteína aqui no Brasil.

— O resultado é que os produtores preferem vender para o exterior, já que é mais lucrativo e, portanto, sobra menos para o mercado interno. Com esse aumento da concorrência externa, aumenta também o preço — diz Peçanha.

Segundo economistas, como a carne tem preço cotado em dólar no mercado internacional, a cada vez que o real se desvaloriza, mais cara vai ficando a proteína. O frango é a outra opção à carne. O que tem um efeito perverso nos preços. Essa opção mais barata vai encarecendo conforme a demanda pela carne de boi vai para o consumo de frango. Por isso também, o preço já subiu 30,08%.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, diz que o real perdeu 30% do valor frente ao dólar no ano passado. Enquanto a cotação do milho subiu 68,8% no mesmo período e a da soja, 79,4%. A variação expressiva desses produtos também faz subir o preço da carne, lembra Peçanha. Milho e soja são usados na ração dos animais. A seca afetou o pasto, e os pecuaristas estão precisando usar mais ração para o gado.

Com todos esses fatores jogando contra o churrasco, ele tem ficado mais raro. O estudante de nutrição João Pedro Oddo costumava se reunir mensalmente com dois amigos para fazer churrasco. A frequência já não é a mesma.

— Não fazemos mais uma vez por mês, a cerveja já não é a marca favorita de todo mundo, não tem mais condição. E agora a gente está procurando mercado, vai em dois ou três e pega onde a carne está mais barata.

*Estagiário sob supervisão de Cássia Almeida

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