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Sunday, September 26, 2021

Juros em alta e perdas na Bolsa abalam a confiança de novos investidores - O Globo

SÃO PAULO E RIO - Na mesma semana em que o Banco Central elevou a Selic, a taxa básica de juros da economia, para 6,25% ao ano, o maior patamar em dois anos, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), cravou sua pior pontuação de 2021. Na segunda-feira, dia 20, fechou aos 108 mil pontos — bem distante do patamar de 120 mil pontos perdido em agosto —, com as notícias de que o conglomerado chinês Evergrande, que atua principalmente no ramo imobiliário, poderia dar um calote com repercussões globais.

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Ver as ações despencando faz parte da experiência dos veteranos do mercado, mas é especialmente difícil para quem acabou de chegar e passa nos últimos dias por sua primeira prova de fogo. Entre 2018 e 2019, o número de pessoas físicas na Bolsa brasileira dobrou, alcançando 1,4 milhão, mas esse crescimento se intensificou ainda mais em 2020 e em 2021, mesmo após o baque inicial da pandemia.

Com a Selic no menor patamar histórico — começou este ano em inéditos 2% — muita gente migrou das aplicações de renda fixa, como poupança e títulos públicos, para as ações em busca de retornos mais altos para seus investimentos, ainda que isso embutisse mais risco.

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O primeiro semestre deste ano terminou com 3,2 milhões de CPFs cadastrados na Bolsa. Agora, esses novatos enfrentam a primeira tempestade perfeita: abalos internos e externos provocam perdas na Bolsa, enquanto os juros sobem e restituem a atratividade das aplicações em renda fixa.

— Nunca tinha me exposto a esse tipo de risco, então não tinha como não me assustar — conta o enfermeiro e professor Maurício Peixoto, de 36 anos, que migrou da poupança para a Bolsa em março.

Apesar da apreensão, ele mantém os papéis, de olho no longo prazo. Mas analistas esperam que muitos retornem à renda fixa com juros mais altos e incertezas no ar.

Nervosismo nas mesas

Na semana passada, nas mesas de operações de corretoras, investidores aflitos buscaram ajuda dos profissionais para entender por que a Bolsa caiu tanto, pulverizando momentaneamente parte do patrimônio em ações. A Rico, do grupo XP, fez uma força-tarefa para enviar aos clientes um relatório com orientações, conta a analista Paula Zogbi:

— A vantagem dessa crise em relação às anteriores é que muita gente entrou na Bolsa no começo da pandemia já pensando em comprar nas baixas. O que não era esperado é a inflação tão alta por tanto tempo, fazendo a Selic subir.

Luiz Fernando Araújo, presidente da gestora de investimentos Finacap, diz que é preciso mostrar ao investidor que não deve mudar sua posição de forma reativa:

— A tendência natural do ser humano é agir por reflexo e sair do risco nesses momentos de notícias mais preocupantes. Mas nosso trabalho é justamente acalmar o cliente e lembrar que é preciso seguir o planejamento financeiro de longo prazo.

O professor da educação infantil Guilherme de Oliveira, de 30 anos, aprendeu a administrar a ansiedade. Ele começou a comprar ações em fevereiro de 2019 e, durante a pandemia, teve as emoções testadas várias vezes pelo sobe e desce da Bolsa. Hoje, depois de ter recuperado perdas, diz ter desenvolvido uma estratégia para não se deixar abalar:

— Para quem é mais ansioso, o ideal é esquecer um pouco da ação, olhar no máximo uma vez na semana para não sofrer.

De volta à renda fixa

Com a alta de juros ganhando tração, especialistas não descartam que parte dos investidores deixe a Bolsa e volte para a renda fixa, que sofre influência da Selic. Com a inflação perto de 10% em 12 meses, analistas esperam a taxa básica entre 8% e 9% no fim do ano.

O Tesouro Nacional já sentiu aumento da procura por títulos. O número de investidores do Tesouro Direito cresceu 54% nos últimos 12 meses.

— Muita gente foi para a renda variável não por opção, mas por força de um cenário de juros baixos — diz Adriano Bernardi, sócio da 3R Investimentos, que atua com gestão de patrimônio e fundos de ações.

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Quem entrou na B3 no início de 2020 passou pela turbulência do início da pandemia, que derrubou o Ibovespa em 30%, em março, aos 73.019 pontos, a maior queda do indicador em 22 anos. Mas a queda dos juros e a recuperação dos papéis na esteira das commodities mantiveram a atração de novos investidores para Bolsa.

Se em 2019 o mercado de ações brasileiro comemorou a marca inédita de 1 milhão de investidores individuais, a Bolsa ganhou 500 mil novos em cada um dos três últimos trimestres.

Pague para entrar...

Com aplicações iniciais a partir de R$ 100, taxa de corretagem zero e a facilidade dos aplicativos, essa turma foi conhecer mais de perto como funciona o mercado de renda variável. Sair não é tão simples, adverte Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro.

Ele observa que o ciclo de alta dos juros marca um momento de transição nas decisões de investimento. Quem já tem dinheiro investido em títulos do Tesouro Selic, por exemplo, que acompanham a alta dos juros, ainda está perdendo da inflação, enquanto algumas empresas, como a Vale, pagam dividendos que superam a alta dos preços, aponta o especialista em finanças:

— Neste momento, o ideal é ter várias frentes de investimento para vencer a inflação.

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Jennie Li, estrategista de ações da XP, calcula que a média de retorno anual do Ibovespa dos últimos 20 anos foi 13%. Mas ela concorda que a renda fixa tem o seu papel dentro de uma carteira diversificada, principalmente para formar uma reserva de emergência.

Para o consultor de investimentos Paulo Bittencourt, quem investe em ações com foco nos fundamentos e desempenho das empresas deve esperar a tempestade passar:

— É preciso investir no negócio, de olho no fluxo de dividendos que a empresa pode oferecer. Não se pode investir em preço, comprar uma ação apenas porque está barata.

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Diversificar é a chave para atravessar marés revoltas

A recomendação dos consultores de investimentos costuma ser a mesma para se preparar para os momentos de turbulência no mercado financeiro: nunca colocar todos os ovos na mesma cesta.

Para quem esse conselho chegou tarde demais, os analistas dizem que o melhor é não sair vendendo por impulso. Muitas vezes é melhor esperar a poeira baixar.

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O ideal é ter um portfólio equilibrado, na definição de Luiz Fernando Araújo, presidente da gestora Finacap: 40% do capital investido em ações, 30% em papéis com juros pós-fixados atrelados à Selic, 20% em títulos pré-fixados e 10% em alternativas como fundos imobiliários.

Outra recomendação do especialista é olhar o retorno consolidado da carteira em vez de avaliar cada classe de ativo. Se a Bolsa está perdendo momentaneamente, isso pode ser compensado pelo ganho em outros tipos de investimentos.

Para Adriano Bernardi, sócio da 3R Investimentos, é essencial ter sempre a ajuda de profissionais experientes:

— Os gestores experientes sabem proteger o patrimônio, mesmo em momentos de baixa. Há ações consideradas defensivas para essas ocasiões.

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O consultor de investimentos Paulo Bittencourt recomenda a quem deseja investir na Bolsa com critérios técnicos focar nos fundamentos das empresas por trás das ações e no longo prazo.

O frio na barriga dos novatos do mercado

‘Subida do juro traz oportunidades em renda fixa’

O vendedor Roberval Nunes, de 43 anos, começou a investir em ações no ano passado Foto: Arquivo pessoal
O vendedor Roberval Nunes, de 43 anos, começou a investir em ações no ano passado Foto: Arquivo pessoal

O vendedor Roberval Nunes, de 43 anos, começou a investir em ações em setembro do ano passado, com a Bolsa em alta, insatisfeito com a poupança. Agora, tomou um susto com o caso Evergrande.

— Foi minha primeira baixa — conta o morador de Assis (SP), que avalia o Tesouro Direito. — A subida do juro traz oportunidades em renda fixa.

‘Acalmei meu coração e não vendi as ações’

A médica veterinária Kárita Borges, de 43 anos, decidiu investir em ações em janeiro Foto: Arquivo pessoal
A médica veterinária Kárita Borges, de 43 anos, decidiu investir em ações em janeiro Foto: Arquivo pessoal

A médica veterinária Kárita Borges, de 43 anos, decidiu investir em ações em janeiro, descontente com o baixo retorno da renda fixa. O Ibovespa estava em 120 mil pontos. Nove meses depois, está em 112 mil:

— Acalmei meu coração e não vendi as ações. Invisto para minha aposentadoria.

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‘Consegui estabelecer um plano de longo prazo’

Maurício Peixoto, de 36 anos, investiu em março e assustou-se com a volatilidade, mas aprendeu que faz parte do jogo Foto: Arquivo pessoal
Maurício Peixoto, de 36 anos, investiu em março e assustou-se com a volatilidade, mas aprendeu que faz parte do jogo Foto: Arquivo pessoal

  Enfermeiro e professor universitário, Maurício Peixoto, de 36 anos, investiu em março, diante dos limites da poupança. Assustou-se com a volatilidade, mas aprendeu que faz parte do jogo.

— Consegui estabelecer, dentro da margem de risco aceitável para o meu perfil, um plano de longo prazo.

‘Estou de olho em títulos pós-fixados’

O professor Guilherme de Oliveira, de 30 anos, investiu em renda fixa Foto: Arquivo pessoal
O professor Guilherme de Oliveira, de 30 anos, investiu em renda fixa Foto: Arquivo pessoal

   O professor Guilherme de Oliveira, de 30 anos, tem uma reserva financeira em renda fixa que o mantém relativamente calmo:

— Tenho reduzido o aporte na Bolsa e aumentado depósitos mensais na reserva. Também estou de olho em títulos pós-fixados.

Alta de juros:  É hora de voltar para a renda fixa?

‘Vejo boas oportunidades de ganhos com juros’

O empresário André Giaquinto, de 53 anos, diz que o Tesouro voltou ao seu radar com a alta da Selic Foto: Marcos Alves / Agência O Globo
O empresário André Giaquinto, de 53 anos, diz que o Tesouro voltou ao seu radar com a alta da Selic Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

  O empresário André Giaquinto, de 53 anos, vê na queda das ações boas oportunidades de compra na Bolsa, mas o Tesouro voltou ao seu radar com a alta da Selic:

— Vejo boas oportunidades de ganho com juros em papéis de prazo mais longo.

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