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Sunday, June 20, 2021

Se o PIB cresce, por que motivo o desemprego e a fome continuam altos? - Jornal Extra

O Produto Interno Bruto (PIB), indicador usado para medir a atividade econômica do país, cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021, em comparação com o último do ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado, divulgado no início do mês, foi o terceiro positivo após o tombo do segundo trimestre de 2020. Além disso, na última quarta-feira, a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado disse acreditar que o PIB cresça 4,2% este ano, podendo ter um avanço de até 5,4%. Apesar do otimismo, especialistas alertam que é ainda é muito cedo para comemorar. Os cálculos podem não refletir a realidade.

Quem anda pelas ruas vê que o total de vendedores de balas em sinais de trânsito aumentou. Cresceu também o número de pedintes, assim como o volume de desempregados. Nos mercados, alimentos da cesta básica, do arroz ao óleo de soja, estão caríssimos. Com os recentes aumentos no preço do gás, há quem tenha começado a cozinhar com lenha por falta de dinheiro para o botijão. Mas, se a situação está ruim para uma grande parcela da população, por que motivo os indicadores da economia refletem um cenário positivo?

Apesar de ser um indicador de crescimento, o PIB não considera dados de desenvolvimento, como distribuição de renda e investimento em educação, entre outros. Ricardo Macedo, professor de Economia do Ibmec/RJ, explica que a recuperação da economia tem sido puxada por setores que se beneficiaram do modelo remoto, por exemplo o de logística. As exportações também têm tido bons resultados: com real desvalorizado, quem vende para fora do país lucra mais.

Exportadores de commodities, como a soja, se beneficiaram com o dólar alto
Exportadores de commodities, como a soja, se beneficiaram com o dólar alto Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

— A grosso modo, a economia tem sido puxada pelos setores que conseguiram se adaptar — analisa Macedo: — Porém, ela só vai voltar a crescer de forma sustentável com a vacinação, que vai ser quando as pessoas vão se sentir seguras para sair de casa, e as atividades tenderem a voltar a uma certa normalidade.

A economista do C6 Bank, Cláudia Moreno, concorda. Ela acredita em uma recuperação mais consistente da economia a partir do último trimestre deste ano, já que o governo espera imunizar com a primeira dose, pelo menos, toda a população acima de 18 anos até outubro:

— Tivemos o surgimento de vacinas, e o mundo começou a se recuperar. Ainda vejo risco em relação à pandemia no Brasil, devido ao alto número de casos, mas acho que temos uma perspectiva favorável à frente.

Otimismo por comparação inadequada

Se compararmos o PIB de abril deste ano com o do mesmo mês de 2020, nota-se um crescimento expressivo de 12,3%. No entanto, para Claudio Considera, pesquisador associado do FGV IBRE, igualar os períodos é a mesma coisa que confundir banana-d’água com banana-da-terra. Embora o produto seja o mesmo, as variedades são diferentes.

— Esses dados devem ser examinados com mais cautela. As sazonalidades mudaram por causa da pandemia. Abril do ano passado foi o fundo do poço, com fechamento de todo o comércio, com isolamento mais rígido. É claro que assim vamos ter um resultado espetacular. Mas, quando você olha o mês contra o mês imediatamente anterior, observa taxas cada vez menores — alerta o pesquisador.

De acordo com o Monitor do PIB da FGV, divulgado em 16 de junho, a atividade econômica em abril teve retração de 0,7% em relação a março. Se a análise mantivesse o padrão sazonal do ano de 2019, ou seja, considerando que o Natal cai sempre em dezembro e o dia das mães em maio, por exemplo, a taxa de variação em abril de 2021 seria de -1,5%, ainda pior. , por exemplo, a taxa de variação em abril de 2021 seria de -1,5%, ainda pior.

‘Ainda há muitos problemas a resolver’

Entrevista com Juliana Inhasz, economista do Insper

Juliana acredita que o impacto da pandemia na educação pode prejudicar a produtividade econômica futura
Juliana acredita que o impacto da pandemia na educação pode prejudicar a produtividade econômica futura Foto: Arquivo pessoal

Como explicar esse avanço do PIB em um cenário em que muitos passam dificuldade?

Se eu pudesse dar um exemplo, é como se tivesse caído de um barranco de dez metros. Você se esfola inteiro. Depois, você levanta e começa a tentar subir. A trajetória mostra um avanço, mas continuamos com as marcas da queda. O que aconteceu com a população brasileira foi isso. A gente caiu bastante, está começando a andar para frente, mas isso não significa que estamos numa situação boa. Ainda há muitos problemas a resolver, como o desemprego e a vulnerabilidade social.

Se formos otimistas, acreditando que vamos fechar o ano de 2021 recuperando as perdas que tivemos ao longo da pandemia, quando poderemos ver a melhora da qualidade de vida para a população?

Você só vai conseguir reduzir o desemprego quando a economia começar a crescer com mais liquidez, o que permitirá que empresas contratem sem medo de demitir lá na frente. A estatística do desemprego pode aumentar até o fim do ano, com mais gente sem auxílio e procurando vaga. Considerando que vamos controlar a pandemia, talvez o indicador se torne mais positivo no meio de 2022.

E há algum impacto a longo prazo dessa crise sanitária e econômica que vivemos?

Há problemas tão graves quanto a pobreza e a miséria, dos quais se fala pouco. Temos uma geração que está sendo altamente impactada pelo fechamento das escolas e pelo ensino remoto. Vamos ter uma produtividade menor no futuro, além de maiores distâncias sociais. A gente vai carregar cicatrizes grandes e notar, até mesmo, aumento da violência.

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