RIO - Para acelerar processos de inovação e digitalização, impulsionados na pandemia, e superar o crescente déficit de profissionais de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil, as empresas decidiram investir nas pratas da casa. Em vez de buscar profissionais cada vez mais disputados — e caros — fora, companhias de diferentes setores investem na formação para tecnologia dentro, com programas de capacitação em áreas cada vez mais presentes no dia a dia dos negócios, como computação em nuvem, análise de dados, robótica e inteligência artificial.
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Essa tendência, uma espécie de retrofit de recursos humanos, é reflexo da escassez de mão de obra especializada em meio às estatísticas recordes de desemprego. Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscon), o Brasil forma anualmente cerca de 45 mil pessoas na área de tecnologia, mas as companhias abrem 70 mil vagas por ano.
Além de cursos e treinamentos internos, a estratégia das empresas envolve a criação de universidades corporativas e programas para ajudar na recolocação de funcionários dentro da própria companhia de forma mais ágil. Segundo a consultoria IDC, os investimentos em TI devem subir 11% no país este ano.
— A vertente educação se tornou uma prioridade no investimento em TI, pois a tecnologia passou a ser uma sustentação de crescimento das empresas — diz Luciano Saboia, gerente de Pesquisa e Consultoria da IDC Brasil.
Na TIM, o treinamento em TI passou a fazer parte do seu plano estratégico. A meta da empresa de telecom é treinar em tecnologia cinco mil funcionários de diversas áreas até o fim de 2023. Já foram 1.500 desde o ano passado, conta Giacomo Strazza, diretor de Desenvolvimento de RH da TIM. Dos R$ 11 milhões por ano gastos em tecnologia, metade vai para capacitação interna.
— A educação para um futuro cada vez mais digital é importante. São temas como 5G, nuvem, internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), ciência de dados e cibersegurança — explica Strazza.
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Outra tele, a Oi criou uma universidade para oferecer cursos aos cerca de 11 mil colaboradores. Dos 455 oferecidos, 203 são voltados à tecnologia. Segundo Marcos Mendes, diretor de Gente e Gestão, quase sete mil funcionários já fizeram treinamentos em TI:
— A pandemia acelerou esse processo. Analisamos o perfil da pessoa e desenvolvemos um treinamento específico.
A Ocyan, que atua na área de petróleo e gás, criou uma Diretoria de Inovação para ajudar na capacitação tecnológica das equipes. Com isso, profissionais das áreas de administração, comunicação, sustentabilidade e RH passaram a ter formação em temas como chatbot (sistema de interação baseado em inteligência artificial), ciência de dados e segurança da informação. Serão R$ 2 milhões investidos neste ano em treinamento em TI.
— Há deficiência de mão de obra. Hoje, há cientistas de dados aqui que vieram das áreas de suprimentos e de sustentabilidade — afirma Hygo Souza, diretor de TI da petroleira.
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Salários acima da média
Sergio Gallindo, presidente da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), diz que o alto investimento em formação decorre da expectativa de que o déficit de profissionais na área crescerá ainda mais nos próximos anos com a transformação digital. Segundo ele, só nos três primeiros meses de 2021, foram contratados 41 mil profissionais de TI no país, quase o mesmo que em todo o ano passado: 47 mil.
— É a criação de um novo ecossistema. Há um esforço de capacitação. Além disso, a remuneração da área é até três vezes maior que a média brasileira, e isso pode ser transformacional para muitas pessoas e suas famílias — diz Galindo.
Os salários são mais altos porque a rotatividade também é. Afinal, os profissionais de TI são sempre assediados por outras empresas, inclusive do exterior. Junto com os trabalhadores da área de saúde, os de TI estão entre os que mais vão morar fora. Com a ampliação do home office, muitas empresas estrangeiras contratam brasileiros sem que eles precisem deixar o país. Isso aumenta para as brasileiras não só o desafio de contratar, mas o de reter profissionais.
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Na incorporadora imobiliária RNI, do grupo Rodobens, Nilson Neves, gerente de TI, diz que, dependendo do caso, treinar é mais econômico do que contratar fora da empresa:
— Se o cargo for mais básico, preferimos treinar, pois a pessoa já conhece todo o funcionamento da empresa. A parte técnica é mais fácil de ensinar do que a vivência do negócio, que nosso funcionário já tem.
A Riachuelo já contratou 400 profissionais em TI desde o ano passado, mas sabe que vai precisar de mais. Então, resolveu treinar, a partir deste mês, cem trabalhadores de outras áreas de olho na necessidade de reforço de suas equipes digitais no futuro.
— TI virou a mola propulsora da digitalização do varejo. Estamos saindo do modelo focado no físico para o de app de moda e logística — diz Mauro Mariz, diretor de Gente, Gestão e Sustentabilidade da rede.
Rafael Nascimento, presidente da Associação Brasileira de Líderes em Tecnologia e Inovação (Ablti), observa que as empresas estão atrás principalmente de trabalhadores que tenham conhecimento sobre aplicativos, automação e comércio eletrônico.
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Para Carlos Gothe, gerente de Inovação da Engie, que atua na área de energia, é preciso que diferentes profissionais desenvolvam competências na área de tecnologia, que, para ele, serão essenciais no futuro em quase todas as áreas.
— No nosso curso de Data Analytics (análise de dados), mostramos que é imperativo saber ler, utilizar e analisar esses dados — diz Gothe.
Foco em inovação
A tecnologia é cada vez mais diretamente ligada aos processos de inovação nas empresas. Na Embratel, dos R$ 10 milhões investidos em um centro de desenvolvimento de aplicações em nuvem, 30% foram para capacitação. Agora, a empresa criará outro programa, com foco em segurança digital. Mario Rachid, diretor-executivo de Soluções Digitais da Embratel, diz que, desde 2020, já foram formadas 500 pessoas de áreas como financeira, call center e atendimento. A empresa quer formar mais 300 internamente e planeja um outro programa, com foco em segurança digital.
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Na Nespresso, a formação em tecnologia é voltada para a aceleração digital, com foco no comércio eletrônico. Bianca Carmignani, responsável pelo RH da empresa, explica que o funcionário pode ser treinado mesmo que, a princípio, não tenha aptidão para a tecnologia. Na rede de farmácias Pague Menos, que tenta expandir sua atuação para serviços digitais, 20 empregados começam em julho um curso de seis meses para aprender programação e desenvolvimento de softwares e plataformas, entre outras habilidades.
— A concorrência por um profissional já pronto é muito alta. Então, vamos buscar na base — diz o diretor de Transformação Digital do grupo varejista, Gilberto Caray. (Colaborou Martha Imenes) TI
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