Uma combinação benéfica de fatores domésticos e externos manteve firme a trajetória de valorização do real nesta quinta-feira. Apoiado pela perspectiva de Selic mais alta, reforçada pelo Relatório Trimestral da Inflação (RTI), do Banco Central, e por dados piores que o esperado da economia americana, o dólar voltou a testar novas mínimas em um ano, num momento em que nem o noticiário político quente em Brasília parece ter efeito sobre os negócios. No encerramento do dia, a moeda americana fechou em baixa de 1,16%, a R$ 4,9034. Este é o menor patamar de fechamento desde 9 de junho de 2020, quando o dólar fechou em R$ 4,8882.
Novamente, o principal fato de suporte ao rali do real é foi a perspectiva de juros mais altos no Brasil, reforçada hoje pelo Relatório Trimestral de Inflação (RTI), do Banco Central. O documento mostrou que a autoridade monetária enxerga uma normalização total da Selic compatível com inflação na meta em 2022, reforçou a sinalização por nova alta de 0,75 ponto em agosto, mas deixou aberta a porta aberta para um ajuste mais intenso.
"Tudo somado, o RTI confirma a elevação do tom 'hawk' (inclinado à retirada de estímulos), mas está mais próximo da visão que se formou com o comunicado do que aquela vista após a ata", ponderam estrategistas do Citi. Após a divulgação da ata, na semana passada, cresceu o número de casas que prevê Selic acima de 6,50%.
Outro fator que beneficiou a moeda brasileira na sessão foi a fraqueza do dólar global, após leituras piores que o esperado dos pedidos de auxílio-desemprego e dos pedidos de bens duráveis nos EUA. "Os dados vão na direção de que o Federal Reserve não vai elevar juros tão cedo. Com a Selic subindo aqui, isso aumenta o diferencial de juros e chama investimento estrangeiro", diz Fernando Bergallo, diretor da FB Capital.
O noticiário político em Brasília, que esquentou nos últimos dias, envolvendo denúncias sobre a compra da vacina da Covaxin e a demissão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, recebem pouca atenção do mercado financeiro no momento. "O mercado está dando as costas há algum tempo, olhando mais a perspectiva de médio e longo prazo. Até porque, se for para colocar no preço, é todo dia turbulência", resume Bergallo.
Na esteira do ótimo momento da moeda brasileira, instituições financeiras continuam a revisar para baixo suas projeções para o câmbio no fim do ano. Hoje, o Bank of America rebaixou de R$ 5,20 para R$ 5,00 a sua estimativa, citando a alta dos juros, mas também surpresas do lado fiscal e do crescimento como motivos.
“A combinação diferencial de juros maior e menos riscos fiscais nos levou à revisão. No entanto, esperamos que o real continue desvalorizando em relação ao seu valor justo de médio prazo de R$ 4,60 dada a situação fiscal ainda vulnerável”, escrevem os estrategistas do BofA, notando ainda que o posicionamento dos investidores já em relação à moeda já está neutro.
Quem também alterou sua projeção foi o Wells Fargo, de R$ 5,15 para R$ 4,90. Em sua revisão mensal de cenário, o banco nota que a moeda brasileira com o rublo russo, entre outros, se beneficiam de uma ação mais intempestiva de seus respectivos bancos centrais para conter o rápido avanço da inflação em seus países. Os economistas do banco americano ressaltam ainda que essa guinada ocorre em um momento em que o Federal Reserve - em que pese todo o temor com um eventual 'taper' - ainda mantém seus juros no chão.
"Estas divergências nas políticas monetárias podem dar vazão a movimentos interessantes nos mercados nos próximos seis meses, mas já tiveram o efeito de separar as moedas vencedoras e perdedoras do primeiro semestre" nota o Wells Fargo. Além do real e do rublo russo, a coroa norueguesa, o dólar canadense e a libra são divisas com bom desempenho no período.
Dólar cai a R$ 4,90 com exterior e relatório de inflação - Valor Econômico
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