O BC (Banco Central) prevê que a inflação alcance 8,5% no acumulado de 12 meses até agosto, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (24). Para a autoridade monetária, depois disso, o indicador cairia progressivamente até chegar em 5,8% no fim de 2021, 0,55 ponto percentual acima do teto da meta para o ano.
A estimativa do BC é de alta mensal de 0,62% em junho, de 0,39% em julho e de 0,26% em agosto, acúmulo de 1,28% no trimestre.
Em maio, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial, acumulou alta de 8,06%, com aceleração de 0,83% no mês, a maior para o período desde 1996.
De acordo com o documento, o risco de o indicador romper o teto subiu para 74%. No documento anterior, de março, a probabilidade era de 41%. A chance de ficar abaixo do piso da meta é zero, segundo o BC.
A meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3,75% com tolerância de 1,5 ponto para cima e para baixo. Dessa forma, a inflação precisa fechar o ano entre 2,25% e 5,25%.
Quando a inflação não fica dentro do intervalo determinado, o presidente do BC precisa escrever uma carta aberta ao presidente do conselho, que é o ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar os motivos.
"A inflação de curto prazo manteve-se pressionada, com destaque para a continuidade da alta dos preços das commodities, para a persistência do cenário de restrições de oferta de alguns materiais e insumos e para a deterioração do cenário hídrico, que tem rápida repercussão sobre o preço da energia elétrica mediante o acionamento de bandeiras tarifárias", disse o texto.
O BC ressaltou que esses fatores mais do que compensaram os efeitos desinflacionários do agravamento da pandemia sobre os preços de serviços e da recente apreciação do real.
Dentro da projeção central do BC, de 5,8%, os preços atingiriam o pico no segundo trimestre, com acúmulo de 8,4% nos 12 meses. No pior cenário traçado pela autoridade monetária, a inflação pode chegar a 6,4% no acumulado em 12 meses até dezembro e, na melhor hipótese, a 5,2%.
"A pressão inflacionária também se mostrou mais forte do que os analistas de mercado antecipavam", destacou o texto.
Nos últimos meses o BC vinha avaliando o choque inflacionário como um movimento temporário, nas na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em 16 de junho, a autoridade monetária mudou o tom e deu menos destaque para a afirmação.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que há uma discussão em diversos bancos centrais de outros países sobre se a inflação recente seria temporária ou não. "Boa parte das surpresas [nos preços] são de natureza temporária, mas houve disseminação na cadeia produtiva", justificou.
Para 2022, a projeção central é de 3,5% e o risco é de 14% tanto para romper o teto, quanto para ficar abaixo do piso.
A autoridade monetária ressaltou que o risco fiscal pode pressionar as expectativas de inflação. Ao ser questionado sobre a extensão do auxílio emergencial e o reajuste de servidores públicos, Campos Neto disse que as análises do BC são focadas na trajetória da dívida pública e de possíveis aumentos de gastos.
"Pode-se fazer um remanejamento interno [dentro do orçamento], se houver espaço e o governo entender que deve, não cabe ao BC analisar em específico o programa", afirmou.
No relatório, o BC também revisou para cima a expectativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021, para 4,6%, 1 ponto percentual acima do estimado no documento anterior.
"Apesar da redução significativa dos riscos para a recuperação econômica, ainda há bastante incerteza sobre o ritmo de crescimento", diz o texto.
Entre os fatores que podem diminuir o crescimento, o BC apontou o risco de surgimento ou disseminação de novas variantes do novo coronavírus, dificuldade para obtenção de insumos e custos elevados em algumas cadeias produtivas e a crise hídrica.
Para o BC, o agravamento da pandemia em março deste ano teve efeito econômico menor que o observado no início da crise, no mesmo mês de 2020.
"O desempenho positivo [do PIB do primeiro trimestre] ocorreu a despeito do ambiente de recrudescimento da pandemia da Covid-19 e da retirada do auxílio emergencial para pessoas em situação de vulnerabilidade, superando as expectativas que grande parte dos analistas econômicos", afirmou o relatório.
"A segunda onda não afetou a atividade como a gente inicialmente imaginava, isso surpreendeu o BC e o mercado, mas ainda temos o setor de serviços mais fraco e a indústria mais forte", pontuou o diretor de Política Econômica, Fábio Kanczuk.
O diretor ressaltou que a previsão do BC para o PIB está abaixo das projeções do mercado, que estão em torno de 5%. "No relatório passado a estimativa do BC estava mais otimista que a dos economistas, mas agora isso se inverteu. Esperamos um segundo semestre pujante, mas o mercado prevê crescimento ainda maior", disse.
Para o mercado de crédito, o BC projeta crescimento de 11,1% em 2021, ante 8% no relatório anterior. Segundo o texto, a revisão foi feita "refletindo o bom desempenho no início do ano e a evolução da atividade econômica".
O BC também destaca alta em linhas de crédito habitacional e rural, além do retorno do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte).
BC prevê inflação de 8,5% em agosto e estouro do teto da meta em 2021 - Folha de S.Paulo
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